Ciência
19/04/2022 às 04:00•2 min de leitura
Muita gente costuma reclamar que quando olha uma obra de arte, não entende nada. Imagine então se alguém criasse um movimento artístico fundamentado justamente na completa falta de sentido? Pois esse movimento existiu e seu nome ficou bem conhecido: era o dadaísmo, e propunha justamente confundir os critérios que eram usados para definir se um trabalho era artístico ou não.
Surgido no século XX, o dadaísmo iniciou durante a Primeira Guerra Mundial, como um movimento contestatório aos valores da época, que incluíam a ênfase na racionalidade e no academicismo. A ideia dos artistas que puxaram essa discussão era a de propor uma arte completamente nonsense — que questionasse tudo o que estava estabelecido, como a crença absoluta em uma ideia de progresso, que estava vinculada às motivações para as guerras e, é claro, à própria arte.
(Fonte: Egon Turci)
O começo do dadaísmo se deu em Zurique, na Suíça. Era uma reação organizada por alguns artistas à Primeira Guerra Mundial e ao nacionalismo que imergia na Europa. A concentração nessa cidade não se deu por acaso: como a Suíça era um país neutro durante a guerra, muitos produtores de cultura se refugiaram lá.
Sua produção se fundamentava na diversificação da arte: o movimento envolvia poesia, arte performática, fotografia, pintura, colagem, entre outros. Todos os estilos poderiam ser usados, pois essa era uma escola muito mais ligada por conta de sua filosofia do que pela conexão estética entre as suas obras.
A concepção de arte difundida pelo dadaísmo também visava abordar o questionamento sobre os aspectos materiais da arte: todo utensílio usado poderia ser artístico, caso assim fosse chamado. Surge aqui também o conceito do readymade, uma forma radical de arte que reside na transformação de objetos industriais do cotidiano em obras artísticas.
Com isso tudo, o dadaísmo também se propunha a ser reconhecido como uma antiarte. Não por acaso, uma das obras mais famosas desse movimento foi Fonte (1917), de Michel Duchamp, que consistia de um mictório em porcelana branca assinado por um pseudônimo do artista.
(Fonte: Wsimag)
Como dissemos, o dadaísmo não propunha a constituição de um estilo estético específico. O que interessava a esses artistas é que suas obras formassem uma forma de antiarte questionadora e provocativa. Por isso, muitas obras famosas são diferentes umas das outras e foram concretizadas em suportes variados.
Marcel Duchamp é provavelmente o artista mais proeminente do movimento. Além de sua famosa Fonte, outras obras suas repercutiram bastante. Uma delas é LHOOQ (1919), que exibia um cartão postal barato da Monalisa, de Leonardo da Vinci, rabiscada com um bigode e um cavanhaque. Duchamp, ao fazer uma sátira de uma grande obra renascentista, estava rejeitando o conceito de arte elevada.
Outra peça bastante comentada é The Art Critic (1919-1920), de Raoul Hausmann, que apresentava uma colagem que tecia uma forte crítica à superficialidade do mundo da arte. No quadro, Hausmann juntava fotos de revistas e jornais com alguns desenhos, simbolizando que os críticos de arte tinham um conhecimento "remendado" e vago — ou seja, não entenderiam nada de arte.
Hausmann também chamou muito a atenção com a obra Mechanischer Kopf (1919) — que, traduzido, significa "cabeça mecânica". Trata-se de uma cabeça de manequim adornado por uma régua, um relógio de bolso e outros objetos. A peça questiona as formas pelas quais a humanidade se relaciona com os objetos ao seu redor. Como o rosto do homem é completamente inexpressivo, entende-se que ele se relaciona superficialmente com os objetos que ele mesmo criou.