Ciência
04/05/2022 às 06:30•3 min de leitura
É provável que você já tenha ouvido falar no ditado popular “quem conta um conto, aumenta um ponto”. Mentir e distorcer a História é algo tão famoso quanto antigo — não é para menos que o escritor grego e filósofo Heródoto também era conhecido como “pai da mentira”.
No entanto, como disse o juiz e governador indiano P. Sathasivam, “a História que engana gerações é mais perigosa que uma arma de destruição em massa”, isso porque esse tipo de distorção, principalmente durante a construção do pensamento crítico e visão de mundo que, essencialmente, começa nas escolas, pode afetar totalmente a maneira como um indivíduo se porta perante a sociedade.
Ainda que o século XXI venha sofrendo com as já conhecidas fake news, mudar a História data de centenas de anos atrás, e isso sempre foi feito baseado em impulsos de propaganda política, em preconceito ou visando benefício próprio.
Para Sathasivam, os alunos cujo estudo da História termina no nível escolar vivem com visões pela metade de muitas partes dela e podem ser absorvidos por mentes que se aproveitam dessas informações incompletas para obter alguma vantagem ou poder — exatamente porque alguns autores ou historiadores educacionais relataram nos livros "apenas as partes mais essenciais".
Para isso, seria necessário que os conselhos estudantis revessem grades curriculares e os professores fossem instruídos a oferecer uma abordagem correta e mais honesta no estudo da História.
Estes são três eventos históricos que nunca aconteceram, mas sobre os quais você já deve ter ouvido falar ou aprendeu assim:
(Fonte: Curieuse Histoires/Reprodução)
“Se não tem pão, que comam brioches” se tornou uma frase imensamente difundida na História como tendo saído da boca de Maria Antonieta, esposa do rei Luís XVI da França, em 1789, ao saber que o povo não tinha pão para comer.
Com isso, também foi endossado que a mulher foi guilhotinada, em 1793, sob o jugo do Tribunal Revolucionário, culpada por crimes contra o Estado, mas também como uma forma de retribuir o descaso que ela teve ao dizer a emblemática frase, que refletia o ápice de seu desprezo por aqueles que morriam nas ruas de Paris.
No entanto, essa fala nunca aconteceu. Não existem evidências históricas que Maria Antonieta tenha dito a frase, mas sim que pode ter surgido como propaganda política dos revolucionários para destruir com força total a ideia monarquista, inspirados pelo que Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) mencionou em um de seus livros.
A primeira ocorrência impressa da versão da frase, como uma piada em língua francesa, apareceu no livro do filósofo sendo atribuída a uma princesa anônima.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
De fato, em 23 de dezembro de 1888, o pintor holandês Vincent van Gogh (1853-1890) cortou sua orelha esquerda com uma navalha enquanto estava em Arles, na França, dando origem à pintura Autorretrato com orelha enfaixada. No entanto, muito diferente do que é dado a entender, ele cortou apenas uma parte pequena do lóbulo.
O motivo foi difundido de maneira tão errada e confusa quanto o acontecimento. Alguns historiadores disseram que Van Gogh fez isso após se desentender com seu amigo de longa data, Paul Gauguin (1848-1903), e ser acometido por uma doença metabólica que o deixou agressivo demais. Historiadores alemães que estudaram a vida do pintor por 10 anos contrapuseram, alegando que Gauguin teria cortado a orelha do amigo durante uma briga de espadas — e ambos teriam concordado em calar a verdade.
Mas os curadores do Museu Van Gogh, em Amsterdã, na Holanda, defendem a teoria da automutilação, afirmando que o pintor fez isso após descobrir que seu irmão Theo, que o sustentava financeiramente, estava se casando. O pintor deu a entender isso em algumas cartas que escreveu para ele.
(Fonte: Art Prints for Sale/Reprodução)
É improvável que o famoso "renascentista tardio" Benjamin Franklin teria empinado uma pipa de seda durante uma tempestade de raios com uma chave presa à corda. Mais absurdo ainda, que quando a pipa foi atingida por um raio, ele tenha recebido um choque ao tocar a chave, provando que o raio tem natureza elétrica.
Foi em um de seus artigos de 1752 que o experimento foi proposto como uma maneira possível de testar a origem da eletricidade, porém é consenso entre os historiadores que isso nunca foi realizado, exatamente porque um raio tem centenas de milhões de volts e o homem jamais teria aguentado.
Ainda que uma pequena fração de energia elétrica tivesse sido "armazenada" pela chave, qualquer contato resultaria em morte. Mas a consciência popular insiste em dizer o contrário — inclusive alguns países estabeleceram leis contra a recriação do experimento perigoso.