Ciência
30/06/2022 às 11:00•2 min de leitura
Assim como acontecia e continua acontecendo, a cor da pele de uma pessoa pode definir se ela será lembrada ou não pela história. No campo da música clássica, existem compositores brilhantes negligenciados por muito tempo devido às suas etnias. Vicente Lusitano é um deles: um exímio compositor negro do século XVI praticamente apagado da história.
Lusitano nasceu em Portugal, por volta do ano de 1520. Alguns indícios históricos sugerem que ele morreu em 1561.
Em 1551 Lusitano decidiu deixar Portugal e partiu para Roma. O centro do poder italiano era considerado como a mais importante capital musical da época, já que atraía compositores e artistas de diversas culturas de toda a Europa.
Há relatos de que Lusitano já era padre nesse período, sendo que suas habilidades como teórico musical e compositor também eram evidentes.
Motete “Heu me Domine” de Vicente Lusitano. (Fonte: Glosas/Reprodução)
A questão é que não há indícios de que ele tenha exercido a função sacerdotal. E aqui já entra o fator cor da pele: a Igreja costumava reservar funções para os europeus brancos, independentemente se soubessem fazer algo ou não.
É por isso não existem muitos registros de negros na Igreja, mesmo que fossem excelentes em música sacra e harmônia, tal como era Lusitano
Mesmo com todos os obstáculos, ele conseguiu publicar diversas obras e tratados. Uma das mais importantes é a sua coleção de motetos, uma série de composições destinadas para corais sacros.
Entender os motivos que levaram ao esquecimento de Lusitano é algo um tanto complexo. O fator raça foi um deles. No entanto, certamente, não foi o único.
Após uma disputa sobre harmonia musical, uma verdadeira discussão de Twitter medieval, e que só foi resolvida no tribunal do Vaticano, Lusitano saiu vitorioso contra o compositor Nicola Vincentino (1551–1576). Além de perder, Vicentino teve que pagar uma multa para Lusitano.
Mas a coisa toda não parou por aí: nos anos que se seguiram Vicentino passou a fazer uma série de publicações enganosas apontando falhas no trabalho de Lusitano.
Toda essa obsessão tinha apenas um único objetivo: prejudicar a reputação do compositor afro-português fazendo com que suas obras fossem cada vez menos respeitadas.
Lusitano era um exímio teórico musical. (Fonte: MSLP/PUBLIC DOMAIN/ Reprodução)
O fato de Lusitano ter se dado bem em Roma, mas ter sido praticamente esquecido pelo resto da Europa levou alguns especialistas e estudiosos de música clássica de Portugal a pesquisarem mais sobre sua vida nos últimos anos.
Sua música, especialmente os motetos e madrigal, continua, lamentavelmente, ignorada em comparação com vários de seus contemporâneos.
A boa notícia, é que iniciativas pontuais tentam mudar um pouco isso, especialmente projetos idealizados por grupos musicais e estudiosos de música clássica que buscam trazer ao público as obras de Lusitano e tantos outros compositores esquecidos pela história.
Abaixo você pode conferir uma das composições de Lusitano, o moteto Inviolata, integra et casta: