Estilo de vida
06/07/2022 às 06:00•2 min de leitura
No ano de 1917, os bolcheviques tomaram o poder na Rússia, destronando o czar e declarando o início de um novo regime comunista revolucionário, onde os meios de produção seriam transferidos para o povo. Demorou cerca de um ano para que toda a família real estivesse morta e o território russo passasse por uma revolução completa.
Porém, um resquício do passado permaneceu de pé: a Manufatura de Porcelana Imperial (MPI), que era localizada nos arredores de São Petersburgo. O estabelecimento logo foi rebatizado para Manufatura de Porcelana do Estado (MPE) e acabou virando uma fábrica de propaganda comunista. Entenda sobre o caso!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Sob o comando de Vladimir Lenin, os bolcheviques decidiram assumir o controle do MPE e viram nele um potencial enorme para a inovação artística e produção de propaganda governamental. Com enormes estoques de porcelana branca sem pintura, a fábrica deu espaço para que mais artistas expressassem suas ideologias utópicas.
O objetivo era gerar entusiasmo na população pelo novo socialismo, dando uma segunda vida para as peças de porcelanato — que antes eram vistas como representação da burguesia. Qualquer resquício de símbolos do MPI foi riscado e substituído pelo tradicional sinal da foice e do martelo, emblema que simbolizava a união do trabalhador e do camponês na União Soviética.
O artista e ceramista Sergei Chekhonin foi quem passou a coordenar a maioria dos projetos, criando bules e outras peças de porcelana começaram a mostrar imagens de chaminés fumegantes, fios de telégrafo e outras representações do trabalho comunista. A porcelana de agitação, como ficou conhecida, apresentava efígies de Lenin e era decorada com apelos à ação por parte dos populares.
(Fonte: Museu Hermitage/Divulgação)
Em uma curiosa reviravolta, as louças de porcelana, que outrora eram destinadas às festas luxuosas da monarquia russa, agora estampavam imagens com militantes vermelhos lutando contra o imperialismo. A tomada de poder da fábrica era uma abordagem mais suave para demonstrar o respeito dos comunistas pelo patrimônio russo e agradar o novo regime precário com as poderosas classes médias — que tinham grande influência no novo governo.
Diversos artistas famosos foram recrutados para mostrar sua visão de mundo, incluindo nomes como Wassily Kandinsky e Kazimir Malevich. A cerâmica, nesse momento histórico, era tão importante quanto qualquer outro tipo de expressão artística para gerar conexão entre o idealismo comunista e o proletariado que atravessava um duro período pós-guerra — onde fome e doenças devastaram tantas vidas russas.
No final dos anos 20, quando Joseph Stalin subiu ao poder e estabeleceu uma ditadura, o uso da arte como veículo de propaganda só se intensificou. Porém, a exigência de que toda arte fosse educativa e popular havia sufocado o esforço artístico. A liberdade de criação foi reprimida e as peças de porcelana perderam o mesmo nível de importância. Mesmo assim, há de se lembrar da época onde grandes nomes da classe artística russa tiveram liberdade para fazerem o que quisessem.