Cerco de Leningrado: 900 dias de morte, canibalismo e desgraça

06/09/2022 às 08:004 min de leitura

A egolatria de Josef Stalin o fez passar muito tempo pensando que a Alemanha nazista de Adolf Hitler não coordenaria uma série de ataques para subjugar sua então União Soviética, embora houvesse um pacto de não-agressão assinado em 1939 e apesar de todas as informações e advertências que recebeu ao longo de 1941.

Isso porque, logo após a Invasão da Alemanha à Polônia, culminando na Segunda Guerra Mundial na Europa, a fome de Hitler por poder foi ficando cada vez maior, principalmente sua confiança na contaminação do fascismo pelo continente. Pensando em findar seus objetivos ideológicos estabelecidos pelo seu conceito de Espaço-Vital (Lebensraum), destruir o bolchevismo, escravizar a população e utilizar da força motriz do trabalho para sustentar a população germânica; capitando todos os recursos soviéticos, sobretudo petróleo e minérios – vitais para a economia alemã –, em 6 de junho de 1941, ele deu início à Operação Barbarossa.

A princípio, as tropas nazistas encontraram um adversário despreparado e com poucas defesas organizadas, portanto, os primeiros avanços – que tinham como alvo Leningrado (atual São Petersburgo), Moscou, Kiev e Stalingrado – foram fulminantes e prósperos contra parte do exército desprevenido, porém o plano estava condenado antes mesmo de começar devido a como as visões de Hitler e de seus generais divergiam sobre o inimigo e como abordá-lo.

O resultado disso é que o sucesso inicial dos nazistas começou a desacelerar, principalmente sobre a poderosa e incansável resistência soviética, que se recusava a simplesmente morrer, então a alternativa de Hitler foi sitiar a cidade. Foi assim que os nazistas assassinaram milhares de civis e soldados de maneira sistemática ao longo de um conflito esmagador e covarde que durou 900 dias, conhecido como Cerco de Leningrado.

O início do inferno

(Fonte: Wikipedia/Reprodução)(Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Conforme os exércitos alemães foram avançando em território soviético, o infame Cerco de Leningrado foi se consolidando, até que se oficializasse, em 8 de setembro de 1941, quando uma divisão motorizada nazista conquistou uma posição ao norte da cidade, onde havia 3 milhões de civis e soldados. Foi então que o inferno começou.

As ordens expressas de Hitler era "apagar Leningrado da face da Terra", como escreveu em um memorando aos seus generais. O objetivo era cercá-la e transformar tudo em poeira através de bombardeios de artilharia de todos os calibres possíveis. Todo o tipo de acordo para rendição deveria ser ignorado, já que o Terceiro Reich não tinha nenhum interesse em alimentar a populosa cidade depois que a tomassem, muito pelo contrário, ele queria viver dela.

(Fonte: Open Democracy/Reprodução)(Fonte: Open Democracy/Reprodução)

Uma vez que os subúrbios de Leningrado foram tomados e o cerco estava feito, então Hitler optou por fazê-los morrerem de fome. E as movimentações para isso começaram imediatamente, com um ataque aéreo da Luftwaffe que destruiu 6 meses de comida, com a necessidade de um racionamento sendo implementado rapidamente, visto que o fornecimento de alimentos estava bloqueado.

Os trabalhadores qualificados receberam em média 700 gramas de pão por dia, enquanto os demais trabalhadores, crianças e mulheres receberam entre 15 a 300 gramas. O privilégio que tomou conta de todos os aspectos interno do cerco também contribuiu para a inanição e o aumento das mortes, no que a comida foi garantida primeiro para os soldados e suas famílias, bem como o fornecimento de alimentos chegava antes para trabalhadores industriais e membros do exército, em um esquema de distribuição desigual. A população tinha que se concentrar – e se contentar – apenas com as rações menores pouco nutritivas.

Morrendo de fome

(Fonte: The Mirror/Reprodução)(Fonte: The Mirror/Reprodução)

Portanto, foi uma questão de tempo para que cães e gatos sumissem das ruas para aparecer na mesa dos cidadãos famintos. Os pássaros também não escaparam do menu das pessoas de Leningrado, que incluía papel de parede, reboco de parede e sopa feita de couro fervido.

Em uma atmosfera de desespero e morte, o canibalismo veio logo em seguida e ficou como uma prática comum. O escritor russo Daniil Granin, sobrevivente do cerco de Leningrado, descreveu em seu livro a cena de uma criança que morreu de fome aos 3 anos e que teve o cadáver fatiado por sua mãe para servir de comida para o irmão. Os casos de cadáveres sendo devorados ficou registrado entre 1 mil e 2 mil durante a batalha pela sobrevivência. No entanto, muitos daqueles que canibalizaram foram mortos pelo governo.

E em meio a tudo isso, havia também os bombardeios que foram incansáveis, chegando a matar até 1 mil pessoas por dia, enchendo as ruas de cadáveres, servindo um banquete à fome. 

Mas o pior ainda estava por vir: o inverno. Ele foi crucial para a consumação do diabólico plano nazista, e uma corrida contra o tempo para os soviéticos de Leningrado que, de fome e frio, chegou a sofrer baixas de até 100 mil pessoas por mês.

(Fonte: All That's Interesting/Reproduçã)(Fonte: All That's Interesting/Reproduçã)

O frio intenso trouxe uma perspectiva de benefícios para os cercados, pois alguns suprimentos conseguiram atravessar o Lago Ladoga extremamente congelado. A Estrada da Vida, como o caminho ficou conhecido, se tornou a única ligação entre Leningrado e o mundo exterior, mas os riscos foram imensos.

Nas primeiras quatro semanas, o gelo não suportou o peso excessivo dos 40 caminhões abastecidos com suprimentos, que racharam a superfície ainda frágil e mergulharam para o fundo do lago com a chance de sobrevivência de milhares de cidadãos.

Além de abastecer 360 mil toneladas, durante 152 dias, a estrada carregou 514 mil pessoas para fora de Leningrado. Para combater os ataques alemães aéreos, canhões foram montados no gelo e metralhadoras posicionadas.

Os mártires da desgraça

(Fonte: Francr24/Reprodução)(Fonte: Francr24/Reprodução)

Enquanto as temperaturas desciam cada vez mais e matavam as pessoas de frio, estresse e fome, diante de um cenário de pura incerteza sobre o futuro da cidade e da própria União Soviética –, um grupo de pesquisadores do Vavilov Institute of Plant Industry, encarregados de preservar 40 mil tipos diferentes de alimentos em um extenso banco de sementes, se recusaram a comer as toneladas de batatas, milho, arroz, trigo, feijão e ervilha durante o cerco.

A atitude visou a preservação da ciência a longo prazo, a biodiversidade da Terra e do país. Como resultado desse sacrifício patriótico, a maioria deles morreram de fome e frio ao lado de suas reservas abundantes. Enquanto lutavam contra as adversidades, eles também tiveram que evitar que sementes e colheitas congelassem e se tornassem infrutíferas, e também protegê-las de ratos famintos e dos próprios cidadãos.

Portas foram barricadas e veneno espalhado em todos os lugares do instituto, estabelecendo uma vigilância de 24 horas que recrutou o que lhes restava de forças para sobreviver até o último instante.

Esta luta, oculta aos terrores da sociedade, terminou só em 27 de janeiro de 1944, quando o Exército Vermelho quebrou o cerco nazista e o último cientista morreu. O instituto enfrentou uma longa batalha para sua preservação ao longo dos anos, até que os retratos dos seus 28 heróis fossem finalmente pendurados como forma de honrá-los.

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