Artes/cultura
17/11/2022 às 09:00•2 min de leitura
“O que é aquela cidade com os prédios azuis?”, se perguntam os turistas que estão passeando pelas águas azuis do Lago Atitlán na Guatemala. O vilarejo de Santa Catarina Palopó, que por muitos anos passou despercebido, hoje tem recebido a atenção das pessoas que decidem conhecer as comunidades locais do lago.
Lago Atitlán com duas crateras de vulcão ao fundo. (Fonte: Wikimedia Commons)
Todos os dias, lanchas que funcionam como táxis, pegam e transportam os moradores locais a caminho do trabalho. Mulheres vestindo trajes tradicionais maias também utilizam o transporte para vender seus artesanatos, assim como os turistas que pretendem explorar a região.
O Lago Atitlán fica em uma cratera vulcânica. Ao seu redor estão três vulcões perfeitamente cônicos e 11 vilarejos maias, o que forma uma espécie de complexo turístico natural e cultural. Cada uma das vilas é conhecida por alguma coisa — têxteis, cerâmica, chocolate — e todas competem pela atenção dos turistas que vão até o local para conhecer o lago.
Santa Catarina Palopó está entre os vilarejos que dependem do turismo para se manter economicamente. Porém, por muito tempo os cerca de 5.000 indígenas que vivem lá dependeram quase que exclusivamente da pesca e da agricultura. Como essas fontes de renda não vinham conseguindo disputar com as demais aldeias, o turismo por lá não estava conseguindo sustentar a crescente população da cidade.
A solução para este problema surgiu dos próprios moradores locais. Percebendo que muitas pessoas deixavam o vilarejo para tentar emprego na Cidade da Guatemala, no México ou nos Estados Unidos, um grupo de trabalhadores, artesãos, empregadas domésticas e donas de casa criou o projeto Pintando Santa Catarina Palopó em 2016. O objetivo inicial do projeto era simples: pintar todas as 850 casas e comércios em cores vibrantes, na tentativa de transformar a cidade serrana em um destino cultural.
(Fonte: Pintando Santa Catarina Palopó project)
O projeto surgiu como uma mistura de atrair mais turistas, revitalizar o vilarejo e reforçar as tradições locais. Para isso, o artista guatemalteco Diego Olivero foi convidado para organizar oficinas de design social com líderes comunitários. Isso iria garantir que os moradores pudessem participar ativamente do processo.
Olivero, ao mesmo tempo que explicava como poderia ser feito um trabalho artístico e atrativo, também aprendeu a importância da comunidade local estar ligada à natureza e ao local onde nasceram. O resultado foi que a escolha das cores veio do próprio meio cultural dos moradores e teve como principal fonte de inspiração o huipil, uma vestimenta tradicional deles.
Stephany Blanco, a diretora executiva do projeto, queria pintar as casas com as cores e figuras que representassem a comunidade. Para isso, foram criadas uma variedade de designs para que as famílias pudessem escolher qual queriam para suas casas e que melhor representassem a família.
As principais cores foram inspiradas no Lago Atitlán, nos vulcões e nas plantas. A equipe criou uma paleta de cores com nomes como “água”, “lama” e “pedra verde”. E assim, os moradores começaram a ver o azul vívido, roxo intenso e verde vibrante tomando conta de Santa Catarina Palopó. As cores laranja, amarelo e rosa completam o esquema principal de cores.
Nos últimos cinco anos, o turismo no vilarejo subiu 74%, estimulando o comércio local. Já foram abertos 17 novos negócios, como um centro cultural, cafés, restaurantes, galerias de arte e centros de artesanato. Das 850 casas, 749 já foram pintadas. O que fez com que, além do turismo, os próprios moradores se interessassem mais pela sua própria localidade.