Abaporu: história da obra mais icônica da arte brasileira

18/01/2023 às 02:002 min de leitura

Considerada a obra fundadora do período antropofágico do movimento modernista no Brasil, a pintura a óleo Abaporu da artista Tarsila do Amaral tornou-se um símbolo máximo da nossa cultura. Uma série de eventos contribuiu para isso: a autora, seus relacionamentos e o momento efervescente da vanguarda que se formava na época de sua criação.

Apesar de sua grandiosidade – e também do seu milionário valor atual – a obra começou como um singelo presente de aniversário preparado por Tarsila para comemorar os 38 anos do seu marido: o poeta, escritor e irrequieto dramaturgo brasileiro Oswald de Andrade, no dia 11 de janeiro de 1928.

De acordo com a sobrinha-neta e responsável pelos direitos da obra da artista de Capivari, Tarsilinha do Amaral, em entrevista à BBC News Brasil, Oswald encantou-se de cara com o quadro de 85 cm por 73 cm. Dizendo ser a melhor obra de Tarsila até então, decretou: "É excepcional este quadro. É o homem plantado na terra". 

O homem que come

Fonte: Revista de Antropofagia/Reprodução.Fonte: Revista de Antropofagia/Reprodução.

Levado por Oswald a outro expoente do movimento modernista – o também poeta Raul Bopp – a figura do quadro foi interpretada como um índio canibal, um antropófago que iria devorar a cultura dominante para incorporá-la e poder reinventá-la a seu modo.

Se havia alguma motivação em sua alma de artista, Tarsila preferiu adotar a interpretação dos dois amigos e, recorrendo a um antigo dicionário de tupi-guarani, correu a batizar a obra. Ali encontrou os termos que definiriam a pintura: “aba” e “poru”, ou "homem que come".

Depois de virar a principal peça do movimento antropofágico brasileiro, o quadro foi exposto em Paris já em 1928, mas, no ano seguinte, a obra voltou para as mãos de Tarsila, quando o casal se separou (Oswald casou-se com Pagu). Na partilha, o poeta levou para si O Enigma de Um Dia, de Giorgio de Chirico. 

Abaporu: uma epopeia

Fonte: Museu Nacional de Belas Artes/Reprodução.Fonte: Museu Nacional de Belas Artes/Reprodução.

Em 1960, após expor o seu homem que come em diversos locais, Tarsila vendeu o quadro por um preço irrisório, para o colecionador e criador do Museu de Arte de São Paulo (MASP), Pietro Maria Bardi, com a promessa de que a obra seria incorporada ao acervo do museu. Era mentira: um mês depois, Bardi vendeu a obra para o colecionador Érico Stickel “por uma fortuna”, diz Tarsilinha.

Em 1984, o galerista Raul Forbes comprou o Abaporu por US$ 250 mil e decidiu, onze anos depois, levá-lo a leilão na icônica galeria Cristie’s de Nova York. A obra foi arrematada pelo empresário argentino Eduardo Constantini por US$ 1,35 milhão. Finalmente, o trabalho de Tarsila foi incorporado a um museu, porém fora do Brasil: o Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires).

No livro Abaporu: Uma Obra de Amor, de 2014, Tarsilinha do Amaral faz uma revelação: o homem que come é, na verdade, um autorretrato da tia, provavelmente nua, feito a partir da imagem refletida em um espelho inclinado.

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