Artes/cultura
03/03/2023 às 12:00•2 min de leitura
Os romanos antigos acreditavam que o vinho era uma necessidade diária. Não é para menos que a bebida foi disponibilizada em toda a estrutura social de Roma Antiga, desde os escravos até aos aristocratas. Como o próprio Plínio, o Velho, dizia: “Há verdade no vinho”, por isso uma garrafa era degustada por dia para cada cidadão romano.
Vale ressaltar, no entanto, que o vinho daquele tempo não pode ser comparado com o de agora, nem de longe. O vinho era fraco em álcool, cujo teor era suficiente apenas para matar as bactérias da água potável imunda da época, sem conseguir fazer cambalear de embriaguez nem mesmo um cachorro.
Ainda assim, os romanos se envenenaram com a sapa, o açúcar de chumbo do vinho.
(Fonte: ThoughtCo/Reprodução)
Antes de sucumbir ao fogo do Monte Vesúvio, a antiga cidade de Pompeia foi um dos centros de produção de vinho mais importantes do mundo, colocando Roma como a "capital do vinho". Os pompeianos adquiririam uma reputação por sua capacidade de vinificação, produzindo um tipo de vinho inigualável.
A reputação, contudo, pereceu quando o Vesúvio destruiu toda a cidade, tendo um efeito devastador na produção da bebida. Com a destruição massiva dos vinhedos, a bebida adquiriu pela primeira vez status de algo reservado apenas aos ricos, de tão caro que custava sua produção. Para atender à demanda, campos de grãos foram arrancados perto de Roma para plantio de uvas, causando escassez generalizada de alimentos uma década depois. Em 92 d.C., o imperador romano Domiciano proibiu novos vinhedos em Roma e ordenou o desenraizamento de metade dos vinhedos já existentes para que alimentos pudessem ser cultivados.
Dois mil anos mais tarde, na região de Pompeia, cientistas tentam recriar o sabor do vinho tomado pelo Império Romano ao reproduzir as técnicas de vinificação usadas na época e descritas nos textos remanescentes de Plínio, o Velho, que também foi um crítico de vinhos bastante influente.
(Fonte: NPR/Reprodução)
No entanto, certamente, os cientistas queriam deixar de lado o sabor de chumbo que, conforme os historiadores, contribuiu para a queda do poderoso Império Romano. Uma espécie de xarope era produzido ao ferver o suco de uva não fermentado para concentrar seus açúcares naturais, e quando era reduzido a um terço de seu volume original, era chamado de "sapa".
Uma vez que isso era feito em chaleiras de liga de chumbo, o elemento químico nocivo se infiltrava na calda e, ao reagir com o acetato no suco de uva, acabava produzindo o acetato de chumbo, um composto químico altamente tóxico.
(Fonte: Ranker/Reprodução)
Desse jeito, a sapa que os romanos usaram como forma de adoçante artificial, especialmente para os vinhos — intragáveis no gosto –, carregava níveis de chumbo 200 vezes superiores ao nível aceitável de hoje para o corpo humano.
O benefício de ter esse adoçante artificial disparou uma indústria que finalmente poderia colocar a sapa no mesmo nível de produção do açúcar cristal de hoje. Como resultado dessa inovação mortal, o "açúcar de chumbo" foi fortemente difundido, passando a ser utilizado como ingrediente na culinária.
(Fonte: Wine Enthusiast Magazine/Reprodução)
Alguns escritos recuperados indicam que os romanos antigos estavam cientes dos perigos no consumo de chumbo, bem como os cidadãos da década de 1960 que consumiam produtos que continham radiação, como os cosméticos Tho-Radia. Mas, a essa altura, era tarde demais.
O consumo constante de "açúcar de chumbo" causou demência, infertilidade, dificuldade cognitiva, fadiga, gota e até falência múltipla dos órgãos –, mas também não foi o único fator. Muitas das inovações que os romanos desfrutavam na época tinham o chumbo na composição, incluindo até os canos que transportavam a água.