Ciência
14/07/2024 às 16:00•3 min de leituraAtualizado em 14/07/2024 às 16:00
Os livros são capazes de nos fazer viajar para lugares em que nunca estivemos, e também conseguem nos fazer enxergar a vida sob diferentes perspectivas. Essas características tornam a literatura tão impressionante, a ponto de ser capaz de nos tornar fãs fervorosos de alguns autores e do universo único que eles criam.
Mas há um problema aí: nem sempre esse mundo imaginário condiz com os posicionamentos de quem os elabora. Isso resulta em constatações frustrantes, e também exige do leitor um esforço maior em tentar separar a obra de seu criador, o que nem sempre é possível.
Responsável pela criação de um dos mais fenomenais universos da literatura fantástica, J.R.R. Tolkien tem uma extensa bibliografia. Crianças, jovens e adultos já foram impactados por suas obras, tais como O Senhor dos Anéis, que resultou em jogos de tabuleiro, uma franquia de filmes e, mais recentemente, uma série de televisão.
Porém, se sua obra é construída a partir da luta de grupos marginalizados contra um tirano, sua vida guarda um triste e indefensável apoio ao regime ditatorial espanhol comandado por Francisco Franco. Publicado originalmente em 1981, Cartas de J.R.R. Tolkien expôs uma correspondência enviada a seu filho Christopher, em que fala sobre poetas, músicos e o general Franco.
Na carta, o escritor expressou sua admiração pelo ditador que, de acordo com Tolkien, lutava contra o comunismo e defendia a Igreja Católica. Durante a Guerra Civil Espanhola, Franco combateu os republicanos, formados por diferentes grupos ideológicos de esquerda, incluindo socialistas e comunistas.
As obras de George Orwell são profundas e cheias de camadas, a ponto de terem o tornado um dos mais celebrados escritores do século XX. 1984 e A Revolução dos Bichos são exemplos perfeitos de críticas à opressão dos governantes, ao autoritarismo e censura. Todavia, o autor também era contrário ao regime comunista da URSS, a ponto de ter delatado colegas escritores.
Pouco antes de falecer, Orwell escreveu o que ficou conhecido como "lista de Orwell", uma sequência de nomes que considerava suspeitos de serem comunistas ou simpatizantes de Stalin. No documento, 38 pessoas foram denunciadas ao Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, incluindo amigas do autor.
Filósofo e escritor inglês conhecido como "pai do liberalismo", John Locke entrou para a história como um grande defensor das liberdades individuais e econômicas, assim como da tolerância religiosa. Mas se, como pensador, Locke lançou olhar aguçado a questões sociais de sua época, como educação, e influenciou grupos liberais e antiescravistas, ele próprio foi apoiador da escravidão.
O britânico possuía ações e investimentos em grupos pró-escravidão como a Real Companhia Africana, e não foram poucas vezes em que argumentou que tornar prisioneiros de guerra em escravos era uma atitude moralmente aceita. Defensores do pensador argumentam que esse viés do inglês era fruto do tempo em que vivia, e que, apesar disso, sempre foi um defensor dos direitos humanos.
Provavelmente, poucas autoras tenham sido tão influentes quanto a britânica Virginia Woolf. Sua escrita explorava, frequentemente, a independência feminina e o feminismo, além de questões relacionadas à saúde mental. Seu estilo lúcido e sonhador de fluxo de consciência influenciou uma série de escritores.
Contudo, Virginia guardava um certo lado antissemita, destinando preconceitos pontuais contra o próprio marido, o judeu Leonard Woolf, mas também a amigos. Em uma carta para a compositora Ethel Smyth, Virginia Woolf se refere a um conhecido judeu como "um tipo de inseto", um judeu "feio e sujo".