Ciência
17/05/2024 às 16:00•3 min de leituraAtualizado em 04/06/2024 às 17:27
O quanto de romantismo impregnava nas relações amorosas em meados do século XIX? Bem menos do que imaginamos, mas isso não impediu que as representações desse período fossem coloridas com muita paixão, a exemplo da série Bridgerton, que chega à sua terceira temporada.
Os 6 fatos que selecionamos abaixo tiram um pouco dessa idealização, mas por outro lado, mostram como realmente floresciam os relacionamentos da Inglaterra do passado.
Um negócio de família: era mais ou menos dessa forma que os casamentos eram encarados séculos atrás. E a preparação começava antes de conhecer a pessoa ideal. Moças, desde jovens, eram educadas para serem consideradas especiais.
Isso valia para quem crescia dentro da elite e buscava manter sua posição, mas era levado mais a sério ainda para famílias que buscavam ascender. Obter um casamento vantajoso era encarado como sinônimo de segurança, e por sua vez, de felicidade. Ainda hoje a validade dessa mentalidade é discutida, o que reforça o seu caráter universal.
Assim que cresciam, as moças deviam ser apresentadas à sociedade, o que podia ser feito por meio de bailes e jantares. Esse ritual, na verdade, indicava que a jovem estava pronta para encontrar seu pretendente. Para isso, mil e detalhes eram considerados, como o vestido e o penteado que seria usado no dia do evento. E a família servia como uma ponte para estabelecer essas relações amorosas.
As jovens mais românticas, naturalmente, esperavam encontrar alguém que fizesse seu coração bater mais forte. Nos bailes, por exemplo, era esperado que as moças tivessem a oportunidade de dançar com vários rapazes diferentes. O ideal seria que trocassem de par, mas sem rejeitar os convites eventualmente recebidos.
E se hoje as sutilezas ainda são consideradas, naquele período, isso era mais forte ainda. A dança era mais do que diversão, era uma forma de conhecer o próximo, tanto pelo toque, quanto pelo modo de se portar. Mesmo as saudações e os olhares tinham um valor bastante especial. Fato é que, diferente das representações desse período, os acontecimentos se desdobravam de forma pouco espontânea.
Como amostra disso, a partir dessas primeiras etapas de socialização, o homem tinha a sua vez de agir e de tornar as suas intenções mais claras. Somente então poderia surgir um novo convite para dançar, sendo sucedido por visitas rápidas na casa da amada devidamente supervisionadas mais adiante. Mas nem sempre era esse o caminho que acabava se desenhando.
As famílias eram muito mais absorvidas pelo relacionamento do que vemos hoje, conferindo um caráter público à relação. Caso o pretendente tivesse uma boa criação e boas condições de vida, ele facilmente teria permissão concedida para namorar. Do contrário, a família acabaria costurando um relacionamento com alguém que considerasse mais apropriado.
Quanto ao casal, na impossibilidade de passarem tempos sozinhos juntos, as cartas eram trocadas, o que também nos leva à visão romântica dos relacionamentos desse período. Mas, na prática, elas ajudavam os casais a se conhecerem melhor. Para aqueles que estavam distantes, as correspondências eram a única forma de contato até que o relacionamento se tornasse mais sólido.
Importante destacar que as intenções declaradas eram levadas bastante a sério. Se um homem abandonasse sua pretendente, por exemplo, a sociedade encararia tal fato com horror. O mesmo valia quanto a avançar em um casamento sem o devido consentimento. E esse tipo de escândalo dificilmente seria esquecido, o que de certa forma evitava que se tornasse recorrente.
Não havia um tempo específico para o namoro perdurar, no entanto, durante a era Bridgerton, as moças não deviam se casar muito depois dos 24 anos. E a família da jovem poderia intervir no relacionamento se o pedido não fosse realizado dentro do tempo esperado.
Esse pedido, diga-se de passagem, deveria ser feito primeiro ao pai da jovem. E uma vez aceito, a negociação teria início. Tudo isso para que um acordo que estipulasse detalhes sobre herança e definição das propriedades da família fosse firmado. Alguns relacionamentos chegavam a avançar mais uma etapa antes do casamento. Por isso, muitas moças chegavam ao altar já grávidas.
Naturalmente, havia quem criticasse essa fixação em um relacionamento financeiramente vantajoso, ou no próprio romantismo exacerbado, como mostram as heroínas de Jane Austen, passando da mais famosa, Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito, até Elinor Dashwood, de Razão e Sensibilidade — retratadas em um período anterior ao da era Bridgerton.
Mas mesmo essas personagens mais racionais tinham a sua cota de sensibilidade. E se por um lado elas eram observadoras atentas da sociedade e criticavam aquilo que ela tinha de mais absurdo, por outro, elas também valorizavam um relacionamento duradouro e bem construído.
Por fim, cabe destacar que muitos casamentos daquele período foram consumados sem amor. Em alguns casos, o sentimento floresceu com o passar do tempo. Mas quem optou por não se arriscar nesse negócio, por sua vez, teve de sobreviver em uma sociedade que reduzia o valor daquele que escolhia seguir só. E para isso, era necessário ter recursos.