Ciência
16/08/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 16/08/2024 às 18:00
Na antiga China, um dos métodos mais aterrorizantes de execução foi o lingchi, conhecido no Ocidente como "morte por mil cortes". Praticado por quase mil anos, desde o século X até 1905, essa forma brutal de punição era reservada para crimes considerados extremamente graves, como alta traição, parricídio e assassinato em massa.
A crueldade do lingchi não se resumia apenas à dor física causada pelos cortes; ele também carregava um forte peso simbólico e cultural. Além de prolongar o sofrimento da vítima, a prática pública do lingchi representava um espetáculo de poder e controle social.
A execução começava com o condenado sendo amarrado a um poste de madeira, incapaz de se mover. O carrasco, com uma espada afiada, iniciava o processo de desmembramento com cortes precisos e meticulosos. As primeiras incisões eram feitas em áreas menos vitais do corpo, prolongando a vida da vítima o máximo possível.
À medida que o carrasco avançava, partes do corpo eram removidas metodicamente, expondo músculos e ossos em um processo que poderia durar minutos ou horas, dependendo da habilidade do carrasco e da gravidade do crime. Embora o objetivo fosse infligir uma morte lenta e dolorosa, as famílias que podiam pagar subornavam os carrascos para garantir uma morte mais rápida.
O horror do lingchi ia além da tortura física. Na tradição chinesa, que valorizava a integridade do corpo, ser desmembrado era também uma punição espiritual. Acreditava-se que um corpo mutilado impediria a paz após a morte, intensificando o sofrimento da vítima. Assim, o lingchi não só matava o corpo, mas também desonrava a alma, causando uma degradação total.
O lingchi tinha profundas implicações socioculturais na China imperial. A execução pública de criminosos simbolizava o poder do Estado e servia de alerta para a população. A rígida hierarquia social justificava punições severas, e essa prática era mais que uma punição: era um espetáculo de dissuasão, reafirmando a ordem estabelecida e as consequências de desafiar o poder imperial.
Embora o lingchi tenha sido oficialmente abolido em 1905 pela dinastia Qing, há relatos de sua prática isolada até o início do século 20. A abolição foi impulsionada por pressões internas de reformistas e protestos internacionais. Fotografias chocantes de uma execução por lingchi, tiradas por um soldado francês, circularam no Ocidente, aumentando a pressão sobre o governo chinês para acabar com a prática.
Ao longo dos séculos, figuras notórias foram executadas por lingchi, como Liu Jin, um eunuco condenado à morte em 1510 por acumular poder excessivo na corte imperial. Ele teria suportado mais de 3 mil cortes antes de morrer, com pedaços de sua carne vendidos aos espectadores. Outro caso infame foi o de Fang Yizhi, estudioso e cientista que criticou abertamente a dinastia Qing e pagou o preço máximo por sua ousadia.
Apesar de seu fim, o legado do lingchi ainda ecoa na cultura popular e memória histórica, lembrando a brutalidade de um passado onde punição extrema servia como ferramenta de controle e medo. A "morte por mil cortes" é um exemplo sombrio de como poder, cultura e justiça podem se entrelaçar de formas aterrorizantes.