Artes/cultura
26/05/2024 às 10:00•3 min de leituraAtualizado em 26/05/2024 às 10:00
Nas primeiras décadas do século XX, não existiam aviões para realizar viagens transatlânticas: o meio de transporte mais rápido e luxuoso para fazer tais viagem eram os dirigíveis, também conhecidos como zepelins.
Porém, o acidente com o LZ 129 Hindenburg, em 1937, pôs fim à chamada "Era dos Dirigíveis" — um desastre que ficou marcado no inconsciente coletivo como um dos mais marcantes do século. Depois dele, as viagens nunca mais seriam as mesmas.
O LZ 129 Hindenburg era um dirigível de fabricação alemã, derivado do lendário Graf Zeppelin, mas ainda maior que ele. Ao todo, eram 245 metros de comprimento e 43 de diâmetro — muito maior que qualquer avião atual, já que até um gigante Airbus A380 tem "apenas" 72 metros de comprimento, 24 de altura e sete de largura (sem as asas).
Sendo assim, os zepelins chamavam a atenção por onde passavam, já que era surpreendente ver algo tão grande voando. Como eles ficavam muito mais próximas do solo que aviões, com uma altitude entre 200 e 600 metros, com uma velocidade em torno dos 135 km/h, era muito mais fácil observá-los.
Isso explica porque centenas de pessoas e até equipes de reportagem estavam à espera do Hindenburg no início da noite de 6 de maio de 1937. Ele iria pousar num campo da base naval de Lakehurst, em Nova Jersey, Estados Unidos.
Aquela era a primeira de dez viagens que o Hindenburg deveria fazer entre a Alemanha e os Estados Unidos naquela temporada. No ano anterior, o mesmo dirigível fez diversas viagens da Europa para o Rio de Janeiro, também causando fascínio nos brasileiros que testemunharam a passagem do zepelim por aqui.
Na viagem fatídica, embora apenas 36 passageiros e 61 tripulantes fizessem a viagem de ida, o dirigível deveria voltar lotado para a Alemanha. Mas ele nunca voltou.
Conta a história que os fortes ventos na região atrasaram a chegada do Hindenburg à base de Lakehurst. O capitão Pruss resolveu desviar para Nova York para escapar de uma tempestade, causando um frisson na população, que saiu dos edifícios para ver o enorme dirigível.
Do horário esperado, no início da tarde, o Hindenburg só chegou à base naval por volta das 19 horas. Como os ventos eram fortes, o capitão Pruss teve de fazer várias manobras para manter o dirigível alinhado com a torre de amarração. E foi nesse momento que o pior aconteceu.
Os relatos do desastre variam — e embora existam muitas imagens do Hindenburg pegando fogo, ninguém registrou o exato momento em que as chamas iniciaram. O que se sabe é que enquanto o Hindenburg manobrava para ser amarrado ao mastro e puxado para mais perto do solo, de modo que os passageiros pudessem desembarcar, o dirigível começou a pegar fogo.
Como ele estava repleto de hidrogênio, as labaredas logo se espalharam por toda a enorme estrutura, gerando um cenário de horror. É verdade que os dirigíveis poderiam usar hélio, um gás menos inflamável. Porém, o hidrogênio era mais barato e não dependia de importações (a Alemanha, que operava essas aeronaves, não possuía suprimentos de hélio).
O desastre se tornou famoso pela cobertura da época, até porque foi um dos primeiros a ser filmado dessa forma. Além disso, a narração em tempo real do radialista Herbert Morrison, que estava no local, tornou o espetáculo ainda mais dantesco. O seu relato é emocionado, com os pensamentos mais sinceros de quem assistia à tragédia com os próprios olhos. Sua frase "oh, a humanidade, e todos os passageiros gritando por aqui!" se tornou famosa.
Ao todo, 36 pessoas morreram: 13 passageiros, 22 tripulantes e uma pessoa no solo. Por mais incrível que pareça, houve um número maior de sobreviventes: 62, sendo 23 passageiros e 39 tripulantes. Mas as cenas do dirigível queimando impactaram milhões de pessoas pelo mundo.
Como o Hindenburg causava fascínio voando, ele também atraiu multidões de curiosos para o local de sua destruição. Por conta disso, o governo dos Estados Unidos movimentou centenas de tropas para proteger os destroços e garantir a investigação das causas do acidente.
Equipes estadunidenses e alemãs examinaram os destroços, chegando a uma conclusão bem parecida: um vazamento de hidrogênio do interior do dirigível permitiu a interação do gás com o oxigênio do ar e uma faísca, provavelmente de eletricidade estática, deu início ao incêndio.
Também há teorias de que a pintura dos zepelins — totalmente prateada, para dar destaque à suástica nazista na traseira — era inflamável, contribuindo para o incêndio.
O resultado do desastre, além das vidas perdidas, foi uma quebra de confiança da população nos dirigíveis. Seu combustível até foi trocado pelo hélio nas poucas viagens que a companhia realizou depois do desastre. Mas logo veio a Segunda Guerra Mundial, tornando a importação de hélio impossível e as viagens transatlânticas menos recomendáveis.
No conflito, os aviões foram utilizados em larga escala. Depois dele, inúmeras aeronaves foram convertidas para uso civil, fazendo que elas tomassem o lugar dos zepelins definitivamente.