Ciência
08/05/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 08/05/2024 às 09:00
Mais da metade das crianças do segundo ano do Ensino Fundamental da rede pública não aprenderam a ler e escrever no Brasil. Estes dados foram analisados pelo Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021.
De acordo com matéria da Agência Brasil, essa situação – que não é nova – se agravou por conta da pandemia de covid-19, período em que o país registrou quase 40% de crianças não alfabetizadas no segundo ano do ensino fundamental. Mas essa crise educacional tem origens históricas.
No livro Tratado da má educação, o pesquisador Renato Bulcão discute como os últimos 100 anos impactaram negativamente na educação brasileira. Os resultados obtidos no país foram comparados com as práticas internacionais em países diferentes como a China, o Japão, a Espanha e a Finlândia. “Segundo o Tribunal de Contas da União, 57% das salas de aula do Brasil estão inadequadas para receberem os alunos. Ou seja, o próprio ambiente escolar não ajuda os alunos a quererem estudar”, afirma o professor na obra.
Outro aspecto analisado é a evasão escolar relacionada à discriminação racial da população. “O abandono escolar mostra que das 50 milhões de pessoas de 14 a 29 anos do país, 10,1 milhões (ou 20,2%) não completaram alguma das etapas da educação básica. Desse total, 71,7% eram pretos ou pardos”, explica. E todo esse cenário se relaciona ao desperdício do dinheiro investido em educação pública.
Na obra, Bulcão apresenta uma análise sobre as origens do preconceito e do autoritarismo que estão hoje arraigados nas escolas brasileiras. Isto ocorre por que o sistema vigente é "programado" para a exclusão de crianças pobres e pretas em determinados momentos de sua vida escolar.
Segundo o autor, essa exclusão se sustenta em uma política do MEC que existe desde os anos 1930 e que criaria uma espécie de "neoescravidão". Bulcão sustenta a ideia que essa exclusão começou com a recusa da Igreja Católica em permitir um ensino laico. "O currículo da escola é pensado pelas elites fingindo que os pobres podem se comportar como ricos, o que causa evasão. Os meninos e meninas abandonam a escola por não entenderem nada do que está sendo ensinado. Enquanto isso, toda a sociedade paga o custo pelo abandono escolar", pondera.
Sua análise defende a ideia de que o Estado prefere pagar melhor policiais militares com ensino médio malfeito, do que professores escolares bem formados nas universidades. Por consequência dessa política, as escolas públicas não recebem manutenção mínima e 53% delas não têm condições de funcionamento, com falta de água, banheiros e salas de aula quebradas. "Investimos mais em penitenciárias do que na educação básica", afirma o professor.
Ou seja, Tratado da má educação argumenta que o sistema público praticado pelos governos em todas as suas instâncias força os jovens a servirem como mão de obra barata e desqualificada para a classe média. "Nem operários estes jovens conseguem ser. E o resultado disso é que a maior favela do Brasil, a Sol Nascente, fica em Brasília e abriga os pobres que servem os funcionários públicos federais dos três poderes", conclui.