Estilo de vida
04/11/2020 às 06:00•2 min de leitura
Num estudo publicado recentemente na revista Cretaceous Research, uma equipe de pesquisadores brasileiros divulgou uma descoberta inédita: fósseis de um grupo de parasitas sanguíneos preservados dentro dos ossos de um dinossauro.
Os pesquisadores, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Unicamp, detectaram a presença dos parasitas nos ossos de um titanossauro, o dinossauro de pescoço comprido, que sofria de osteomielite aguda, uma infecção óssea que até hoje atinge animais e humanos.
A importância da descoberta foi ter sido localizada, pela primeira vez, dentro de um hospedeiro. Anteriormente, a presença de parasitas pré-históricos somente havia sido detectada dentro de insetos preservados em âmbar ou em fezes fossilizadas.
Segundo a autora sênior da pesquisa, a cientista Aline Ghilardi, da UFRN, enquanto ela fazia seu pós-doutorado, percebeu que, dentro de um dos ossos da perna do dinossauro que estudava, havia uma certa quantidade de caroços esponjosos.
Com seus colegas, Ghilardi começou a examinar o osso para determinar a origem da enfermidade. Descartaram, a princípio, câncer e tuberculose, pois estas doenças reduzem o fluxo sanguíneo nos ossos. Mas a superfiície irregular do fóssil sugeria que ele já havia sido crivado de canais vasculares cheios de sangue e pus.
Outro autor, Tito Aureliano, mestrando na Unicamp, estudou os ossos com um microscópio e realizou uma tomografia, na USP. O resultado confirmou a existência de cavidades internas provavelmente associadas ao fluxo sanguíneo. Optaram por fazer um procedimento inédito até então: uma biópsia.
O procedimento foi feito através de cortes finos do fóssil que, revestido com resina, foi examinado num poderoso microscópio. A doença diagnosticada, osteomielite aguda, pode ter sido a origem das deformações nos ossos, e provavelmente causava muita dor ao titanossauro.
Mas, a surpresa estava por vir: a paleontóloga Fresia Ricardi-Branco, da Unicamp, detectou a presença de um microfóssil nos canais vasculares do osso de titanossauro. Quando Aureliano fez um exame posterior, detectou mais de dez microrganismos fossilizados.
Coube então à paleoparasitóloga Carolina Nascimento, da UFSCar, analisar detalhadamente a amostra, e achar mais de 70 microrganismos similares, preservados dentro do osso, que seriam de um tipo de parasita sanguíneo.