Sinais de cirurgia cerebral são achados em crânio de 3,5 mil anos

28/02/2023 às 10:002 min de leitura

Civilizações antigas de diferentes regiões tinham o costume de realizar a trepanação, uma cirurgia craniana que poderia facilitar a cura de doenças ou espantar maus espíritos. Evidências desta prática foram encontradas em um crânio de 3,5 mil anos localizado no sítio arqueológico de Megiddo, em Israel.

A descoberta foi relatada em um estudo publicado na revista PLOS ONE, no dia 22 de fevereiro. Liderada por pesquisadores das universidades Brown e Albany, nos Estados Unidos, a investigação se baseou nos restos mortais de dois irmãos que viveram no século XV a.C., achados no local.

Em um dos crânios, havia um orifício quadrado de aproximadamente 30 mm, feito com um instrumento afiado. Não se sabe se a operação foi realizada com algum tipo de anestesia ou se o paciente sentiu todas as dores do procedimento.

Local onde os crânios foram achados. (Fonte: Universidade Brown/Divulgação)Local onde os crânios foram achados. (Fonte: Universidade Brown/Divulgação)

Este pode ser o caso mais antigo de trepanação no Oriente Médio, onde é raro encontrar registros assim. A equipe de análise foi composta também por especialistas das universidades de Haifa, em Israel, e de Innsbruck, na Áustria, e do Instituto WF Albright para Pesquisa Arqueológica de Jerusalém.

Irmãos tinham várias doenças

A análise detalhada dos restos mortais da Idade do Bronze revelou uma série de curiosidades sobre a saúde dos irmãos — o parentesco foi descoberto graças ao exame de DNA. Segundo a bioarqueóloga Rachel Kalisher, eles enfrentaram vários problemas de saúde.

Provavelmente integrantes da classe alta, os irmãos tinham sinais de anemia e várias anormalidades esqueléticas, problemas que teriam encurtado a existência de ambos. Há a suspeita de que eles morreram de uma doença infecciosa, possivelmente a lepra.

Restos mortais analisados na pesquisa. (Fonte: PLOS ONE/Reprodução)Restos mortais analisados na pesquisa. (Fonte: PLOS ONE/Reprodução)

Bastante debilitado, o mais jovem teria falecido por volta dos 20 anos, conforme a coautora do estudo. Depois disso, o mais velho procurou ajuda médica para tentar se curar, partindo para uma solução mais drástica como a cirurgia craniana.

Apesar dos esforços para mantê-lo vivo, a trepanação não foi bem-sucedida, com o homem morrendo logo após o procedimento, o que pode ter acontecido em dias, horas ou até minutos. Estima-se que ele tinha 21 anos ou mais quando faleceu, levando a família a exumar o primeiro corpo para enterrá-los juntos.

Procedimento comum nas Américas

Seja por razões médicas ou relacionadas a rituais, a prática da cirurgia cerebral era comum em todo o mundo antigo. Da África, onde um caso datado de 7 mil anos foi descoberto, à Ásia, o método também tinha adeptos durante a era medieval na Europa.

Mas um local que chama a atenção pelo alto número de registros é o Peru. Segundo o antropólogo John Verano, há mais de 800 casos de trepanação registrados naquela região andina, inclusive com altas taxas de sobrevivência dos pacientes, especialmente nas cirurgias registradas entre os anos de 1400 e 1500 d.C.

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