Ciência
29/04/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 29/04/2024 às 10:00
Canábis é uma palavra que designa várias drogas psicoativas e medicamentos derivados de plantas do gênero de mesmo nome. Em termos científicos, a canábis tem como o seu principal constituinte psicoativo o tetraidrocanabinol (THC), que é um dos 400 compostos presentes na planta.
Hoje há, em vários países, uma discussão em torno da legalização dessa substância e dos efeitos que isso traria. Mas o fato é que a canábis que existe hoje tem características diferentes da que tínhamos há alguns anos.
Segundo o professor de Psicologia Ty Schepis, da Universidade do Texas, o termo canábis é abrangente e aborda vários tipos de plantas que foram sendo modificadas com o tempo. "Quando a maioria das pessoas com mais de 40 anos pensa em canábis, imaginam a sua forma seca para fumar. Esta canábis não era particularmente forte: a concentração média de THC medida pela Drug Enforcement Agency em 1995 era de 4%, enquanto em 2021 era de cerca de 15%", explica em texto no portal Science Alert.
Hoje há muitos concentrados de canábis diferentes que apresentam altos níveis de THC, de 40% a 70%, até mais de 80% em alguns casos. Isso depende do método de extração e inclui pastas e óleos que podem ser vaporizados ou passados pelo corpo.
Os efeitos no cérebro também variam de acordo com o composto químico. Os mais comuns entre eles são o THC e o canabidiol (CBD). Este último, inclusive, é o que tem uso medicinal e traz benefícios já reconhecidos para casos de epilepsia grave, por exemplo. Mas vale lembrar que o composto deve ser usado com acompanhamento médico, pois pode causar reações imprevistas.
Outra mudança que ocorreu foi o surgimento de novos usos para a canábis de acordo com subprodutos gerados a partir dela. Por conta de a planta possuir hoje mais THC do que no passado, estes produtos conseguem elevar os níveis sanguíneos do composto de forma rápida e mais forte do que a sua versão tradicional, que era apenas fumada.
Acontece que o uso de produtos de canábis de alta potência pode levar a uma maior chance de efeitos reversos, como surtos psicóticos e esquizofrênicos, paranoia e dependência. E isso pode ocorrer com mais frequência de acordo com o método usado e com a idade do usuário.
Adolescentes, por exemplo, podem preferir um vaporizador que não produz o cheiro característico da maconha. Um estudo de 2021 descobriu que a vaporização de canábis no ano passado quase duplicou entre 2017 e 2020 em adolescentes – ela saltou de 7,2% para 13,2%.
Para Ty Schepis, o dado é assustador, pois poderia alterar o desenvolvimento do cérebro dos jovens. "A investigação mostra que os cérebros dos adolescentes que consomem canábis estão menos preparados para mudar em resposta a novas experiências, o que é uma parte fundamental do desenvolvimento do adolescente. Os adolescentes que consomem canábis também têm maior probabilidade de apresentar sintomas de esquizofrenia, de ter mais dificuldades na escola e de se envolverem com outros comportamentos de risco", afirma.
Esses riscos aumentam com o uso de canábis com alta concentração de THC. Ele faz uma comparação com o álcool. "A maioria das pessoas sabe que uma cerveja de 600 ml é muito menos potente que 600 ml de vodca. A canábis que se fuma está mais próxima da cerveja, enquanto a concentrada é mais parecida com a vodca. Nenhum dos dois é seguro para um adolescente, mas um é ainda mais perigoso", arremata.