Ciência
31/12/2022 às 13:00•2 min de leitura
A captação das impressões digitais pode ser considerada o primeiro passo que a humanidade deu na descoberta de como aplicar o uso do DNA em outros âmbitos sociais além da ciência. Desde o Pleistoceno Médio que o homem deixa suas marcas estampadas nas paredes pré-históricas das cavernas, mas foi só no século XIX que sua importância começou a ser explorada; demorando até meados da década de 1980 para que esse composto orgânico pudesse iniciar sua era social ao ser aplicado pela primeira vez em um caso criminal com intuito de determinar um culpado.
Hoje, além de não apenas ajudar a localizar suspeitos em cenas de crime e permitir que genealogistas forenses resolvam casos arquivados décadas atrás, o DNA pode descobrir parentescos, ajudar na melhora do gado, das plantas, proteger dados e reconhecer pessoas através de uma simples pressão do dedo sobre uma superfície.
Em meio a tudo isso, é engraçado e curioso imaginar que o primeiro rastro de DNA identificado na história da humanidade foi encontrado nos dentes de um canibal.
(Fonte: Chuang Zhao /Reprodução)
Antes celebrado por sua suposta ferocidade e utilidade – hoje associado à violência, loucura e a uma imagem maníaca –, o canibalismo é, provavelmente, uma das maiores questões morais do século XXI. Afinal, pensar nela é lembrar de crimes, como aqueles cometidos de maneira implacável e perturbadora por Jeffrey Dahmer e Ed Gein no século passado, por exemplo.
Ainda assim, a prática de comer carne humana por si só é considerada legal nos Estados Unidos, à exceção do estado de Idaho, bem como no Reino Unido, enquanto é permitida em grande parte da Europa e no Japão. Apesar disso, existem diversas leis que impossibilitam a obtenção e consumo legal de matéria corporal em países da América.
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(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1994, um grupo de arqueólogos em expedição nas montanhas de Atapuerca, no norte da Espanha, descobriram ossos humanos fossilizados e enterrados, datados de 800 mil anos atrás, pertencentes a um ancestral humano então não classificado, apelidado apenas de Homo antecessor. Vale lembrar que o Homo sapiens é apenas o modelo evolutivo mais recente na longa linhagem de espécies extintas, que a ciência até então sabe de apenas 21 outras que viveram antes de nós, sendo o Sahelanthropus tchadensis o mais antigo, com cerca de 7 milhões de anos.
Os ossos encontrados pelos arqueólogos apresentavam marcas de terem sido cortados e fraturados como se tivessem sido canibalizados, sendo que o dente de uma das vítimas continha restos de DNA humano. Portanto, aparentemente, nossos ancestrais entravam em luta corporal e depois ingeriam uns aos outros.
(Fonte: Wikimedia Commons)
O H. antecessor começou a devorar seus semelhantes devido a uma deficiência de proteína. Afinal, o corpo humano conseguia oferecer uma quantidade decente de gordura e muita proteína, além de que era bem mais fácil atacar uns aos outros do que caçar algum animal. Os pesquisadores do sítio arqueológico espanhol Gran Dolina, estimam que as refeições humanas naquela época podem ter representado 13% das calorias diárias dos humanos. Acredita-se que os H. antecessor escolhiam suas presas com base no equilíbrio: o número maior de calorias pelo menor esforço.
Ainda que outros animais oferecessem mais calorias por mordida, o canibalismo se tornou vantajoso porque os caçadores demandavam menos energia para capturar suas presas humanas, se beneficiando da contagem calórica da carne mesmo ela sendo menor.
Jesús Rodríquez, pesquisador do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (CENIEH), na Espanha, revelou que os seres humanos eram um tipo de presa de alto escalão na primitividade. “Nossas análises mostram que o Homo antecessor, como qualquer predador, selecionou sua presa com base no princípio de otimizar o equilíbrio custo-benefício”, disse ele.