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10/03/2021 às 12:41•7 min de leitura
Por mais que pandemias e epidemias sejam preocupantes e precisem ser levadas a sério, elas não são novidades na história mundial. A partir do momento em que começamos a viver em sociedade e a fazer contato com outros povos, as doenças começaram a se espalhar. Separamos uma lista com as 10 pandemias e epidemias mais letais de todos os tempos, confira abaixo!
Número de mortes: Incontável, 500 milhões apenas no século XX.
Causa: varíola.
Dr. Edward Jenner realizando vacinação contra varíola. (Fonte: DEA Picture Library/Getty Images/Reprodução)
A varíola tem uma história bem extensa como causadora de epidemias mortíferas. Acredita-se que provavelmente surgiu na Índia, sendo descrita na Ásia e na África desde antes da era cristã. Foi a possível responsável pela epidemia misteriosa e catastrófica ocorrida em Atenas, que, segundo Tucídides, matou um terço da população no ano de 430 a.C., dando início ao declínio dessa civilização democrática. A doença era desconhecida e desapareceu depois de um tempo, mas surgiu novamente nos séculos II e III dizimando grande parte da população do Império Romano, a qual era totalmente não imune, como mais tarde faria na América.
A varíola foi endêmica na Europa, Ásia e Arábia por séculos, uma ameaça persistente que matou 3 a cada 10 pessoas infectadas, deixando os sobreviventes com cicatrizes e cegueira. Porém, a taxa de mortalidade no Velho Mundo não foi nada em comparação à devastação causada entre as populações nativas no Novo Mundo, quando o vírus da varíola chegou no século XV com os primeiros exploradores europeus. Os povos indígenas dos países conhecidos atualmente como México e Estados Unidos não tinham imunidade natural ao vírus, que seguiu dizimando dezenas de milhões.
Segundo Thomas Mockaitis, historiador e professor da Universidade DePaul, não existe uma chacina histórica que possa se equiparar ao que aconteceu nas Américas — onde 90% a 95% da população indígena foi exterminada no decorrer de 1 século, com o México passando de 11 milhões de pessoas, antes da conquista, para apenas 1 milhão.
Séculos depois, a varíola se tornou a primeira epidemia viral a ser finalizada por uma vacina. Em 1796, um médico britânico chamado Edward Jenner percebeu que as mulheres que retiravam o leite das vacas não contraíam a varíola e acabou descobrindo que a imunidade delas ocorria devido a uma infecção não perigosa proveniente da varíola bovina (cowpox). Foi então que Jenner famosamente inoculou o filho de 9 anos de seu jardineiro com essa varíola e, em seguida, expôs o menino à varíola humana, o que não apresentou nenhum efeito prejudicial.
Porém, foram precisos quase 2 séculos para combater o vírus completamente. Em 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a varíola havia sido completamente erradicada da face da Terra.
Número de mortes: de 75 milhões a 200 milhões.
Causa: peste bubônica.
(Fonte: Anton Koberger, 1493/Dominío público/Reprodução)
A peste negra (ou morte negra) foi uma das pandemias mais devastadoras da história. Durante o período de 1346 a 1353, o surto devastou a Europa, a África e a Ásia, causando um número estimado de mortes entre 75 milhões e 200 milhões de pessoas. Ela teria surgido na Ásia Central e foi se espalhando principalmente pela rota da seda, por meio das pulgas de ratos que frequentemente estavam a bordo dos navios mercantes.
Naquela época, os portos eram os principais centros urbanos e, como não eram áreas muito limpas, tornavam-se locais ideais para ratos e pulgas. Essa falta de higiene era propícia à origem de doenças, então foi assim que a bactéria teve espaço para se alastrar e devastar continentes. A situação foi tão séria que a população humana não retornou aos níveis pré-peste até o século XVII. A enfermidade continuou a surgir de forma intermitente e em pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo do século XIX.
Número de mortes: cerca de 36 milhões.
Causa: HIV/AIDS.
(Fonte: Mario Suriani/Sociedade Histórica de Nova York/Reprodução)
O HIV foi identificado pela primeira vez na República Democrática do Congo, em 1976, e provou sua força como uma pandemia global ao matar mais de 36 milhões de pessoas. Acredita-se que sua origem provavelmente se deu a partir de um vírus de chimpanzé, o qual foi transferido para seres humanos na África Ocidental, na década de 1920. Atualmente, existem entre 31 e 35 milhões de pessoas vivendo com AIDS, sendo que a grande maioria delas está localizada na África Subsaariana, onde 5% da população são infectados (um total aproximado de 21 milhões de pessoas).
Por décadas, a doença não tinha cura conhecida, mas os medicamentos desenvolvidos na década de 1990, o aumento da conscientização e o desenvolvimento de novos tratamentos tornaram o HIV muito mais gerenciável, e muitos dos infectados passam a levar uma vida produtiva. Uma notícia ainda mais encorajadora é que 2 pessoas já foram curadas da doença no início de 2020.
Número de mortes: 25 milhões.
Causa: peste bubônica.
Um mosaico do Imperador Justiniano e seus apoiadores. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
A praga de Justiniano foi uma pandemia causada também por um surto de peste bubônica e recebeu esse nome por ter ocorrido durante o reinado do imperador Justiniano I (527-565). Também é uma das maiores pandemias da história, com impactos muito parecidos com os da peste negra vários anos mais tarde.
Foi estimado que entre 25 milhões e 100 milhões de pessoas tenham morrido ao longo de 2 séculos por causa dessa peste. A doença foi transmitida pelas pulgas que infestavam os ratos dos navios com carregamento de grãos do Egito. A praga de Justiniano deixou sua marca no mundo, dizimando até um quarto da população do Mediterrâneo Oriental e devastando a cidade de Constantinopla, onde, no auge, causou mais de 5 mil mortes por dia e, consequentemente, deu fim a 40% da população da cidade.
Acredita-se que os resultados dessa pandemia ajudaram na conquista das províncias bizantinas no Oriente Médio e na África pelos árabes, facilitando-a. Estudos genéticos mostraram que essa doença teria origem na China e seria causada pela bactéria Yersinia pestis, assim como outras grandes pragas.
Número de mortes: de 20 milhões a 50 milhões.
Causa: influenza.
Hospital emergencial durante a pandemia no Campo Funston, Kansas, Estados Unidos. (Fonte: Museu Nacional de Saúde e Medicina/Reprodução)
A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma pandemia incomumente mortal do vírus influenza. De janeiro de 1918 a dezembro de 1920, 500 milhões de pessoas foram infectadas, cerca de um terço da população mundial na época, causando a morte de 20 milhões a 50 milhões de indivíduos.
Entre os infectados pela pandemia de 1918, a taxa de mortalidade foi estimada entre 10% e 20%, com 25 milhões de mortes apenas nas primeiras 25 semanas. O que separou essa pandemia de gripe de outros surtos parecidos foram as vítimas. Gripes normalmente causavam a morte de jovens, idosos ou outros pacientes com o sistema imunológico comprometido, mas a espanhola afetava jovens e adultos completamente saudáveis. Além disso, crianças e outras pessoas mais debilitadas permaneciam vivas.
Essa enfermidade também levou algumas comunidades indígenas à beira da extinção. A propagação e a letalidade da gripe aumentaram devido à quantidade de soldados reunidos no mesmo lugar e a má nutrição que muitas pessoas estavam vivenciando durante a Primeira Guerra Mundial.
Uma curiosidade é que apesar de ser chamada de "gripe espanhola", o surto provavelmente não começou na Espanha. O país era uma nação neutra durante a Primeira Guerra Mundial e não tinha uma censura rigorosa à imprensa, então poderia publicar livremente relatos iniciais da doença. Como resultado, as pessoas acreditaram que a doença era específica do local e o nome acabou pegando. A origem do vírus, porém, pode ser o interior dos Estados Unidos e a doença foi parar na Europa entre os soldados americanos que foram lutar a guerra no Velho Mundo.
Número de mortes: de 5 milhões a 15 milhões.
Causa: possivelmente Salmonella enterica.
Monumento Nacional das Ruínas Astecas. (Fonte: USGS/Reprodução)
Cocoliztli é o termo asteca para praga. Essa epidemia foi causada por uma infecção em forma de uma febre hemorrágica viral e matou 15 milhões de habitantes do México e da América Central. A doença se provou completamente catastrófica, especialmente entre uma população já enfraquecida pela seca extrema.
Em um estudo recente, no qual foi examinado o DNA dos esqueletos das vítimas, foi descoberto que elas estavam infectadas com uma subespécie de salmonella conhecida como S. paratyphi C. Esta causa febre entérica, uma categoria que inclui febre tifoide. A doença é uma grande ameaça à saúde dos seres humanos até hoje, podendo causar febre alta, desidratação e problemas gastrointestinais.
Número de mortes: 5 milhões.
Causa: desconhecida.
Os soldados romanos provavelmente trouxeram a doença na volta para casa, dando início à peste antonina. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
A peste antonina, também conhecida como peste de galeno, foi uma antiga pandemia que afetou a Ásia Menor, o Egito, a Grécia e a Itália. Acredita-se que tenha sido causada por varíola ou sarampo, mas a verdadeira origem ainda continua desconhecida. Essa doença foi trazida para Roma pelos soldados que retornavam da Mesopotâmia por volta de 165 d.C. e, sem saber, ajudaram a propagá-la, gerando um surto que acabou matando mais de 5 milhões de pessoas e dizimando grande parte do exército romano da época.
Número de mortes: 2 milhões.
Causa: influenza.
(Fonte: Reprodução)
A gripe asiática foi um surto pandêmico da influenza A do subtipo H2N2, que começou na China a partir de 1956 e durou até 1958. Alguns autores acreditam que ela se originou de uma mutação em patos selvagens combinada com uma cepa humana preexistente. Em seus 2 anos de existência, a enfermidade viajou da província chinesa de Guizhou para Cingapura, Hong Kong e Estados Unidos. As estimativas do número de mortes dessa patologia variam dependendo da fonte, mas a OMS acredita que a contagem final é de aproximadamente 2 milhões de mortes, com 69,8 mil das fatalidades apenas nos EUA.
Número de mortes: 1 milhão.
Causa: influenza.
Gravura em madeira mostrando enfermeiras atendendo pacientes em Paris durante a pandemia. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Atualmente, acredita-se que a gripe russa foi causada pelo vírus H2N2, pois muitas pessoas com maior resistência à gripe asiática de 1957 (que era do subtipo H2N2), teriam passado relativamente ilesas ao primeiro contato durante a epidemia da gripe russa. Porém, descobertas recentes têm atribuído a causa ao subtipo H3N8 do vírus da influenza A. Caracterizado principalmente por febre e pneumonia, o surto durou de 1889 a 1890, levando à morte de 1 milhão de pessoas, sendo cerca de 300 mil apenas na Europa.
Foi a primeira pandemia documentada com detalhes, registrada inicialmente em maio, em Bukhara, no sul do antigo Império Russo (atual Uzbequistão) e se alastrou rapidamente pelo império dentro de 2 semanas, principalmente por causa da linha férrea transiberiana.
O rápido crescimento populacional do século XIX, principalmente nas áreas urbanas, serviu para facilitar a propagação da gripe e, em pouco tempo, o surto se espalhou pelo mundo, chegando inclusive até o Brasil.
Número de mortes: 1 milhão.
Causa: cólera.
Sátira mostrando o rio Tâmisa e sua prole de cólera, escrófula e difteria, por volta de 1858. (Fonte: Hulton Archive/Getty Images)
O 3º grande surto de cólera é geralmente considerado a mais mortal entre os sete que ocorrerão, durando de 1852 a 1860. Como a primeira e a segunda pandemia, esta também se originou na Índia e foi se espalhando pelo rio Ganges antes de tomar a Ásia, Europa, América do Norte e África — sendo responsável pela morte de mais de 1 milhão de pessoas. O médico britânico John Snow, enquanto trabalhava em uma área pobre de Londres, acompanhou os casos de cólera e conseguiu identificar a água contaminada como meio de transmissão da doença, porém o ano de sua descoberta (1854) também foi o de pico da pandemia, quando 23 mil pessoas faleceram na Grã-Bretanha.