Ciência
20/11/2021 às 11:00•2 min de leitura
É crença popular que pessoas que convivem por muito tempo eventualmente vivenciam a experiência de ter seus ciclos menstruais sincronizados. Mas será que isso é verdade ou mera coincidência? Essa teoria se baseia no fato de que ao menstruar são liberados feromônios que influenciariam o organismo de terceiros.
Na visão de alguns, existe até mesmo o conceito de "fêmea alfa", aquela que serviria como fator determinante para influenciar o ciclo menstrual de um grupo inteiro. Apesar de essa teoria ser dada como certa, existem poucas comprovações científicas e na medicina a respeito do tema. Então, vamos nos aprofundar no assunto!
(Fonte: Shutterstock)
A ideia de que grupos tendem a ter seu período menstrual sincronizado é um conceito difundido entre gerações, mas passou a ganhar mais notoriedade na comunidade científica graças a uma pesquisadora chamada Martha McClintock, que conduziu um estudo com 135 universitárias vivendo em um mesmo dormitório.
Embora o estudo não tenha levado em conta outros fatores do ciclo menstrual, como o período de ovulação, o experimento teve eficácia em determinar o momento em que o sangramento mensal começou em cada participante. Considerando essa análise, a pesquisa chegou à conclusão de que o grupo de fato estava com o ciclo menstrual sincronizado.
Após algum tempo, o teste acabou ficando conhecido como o "efeito McClintok" e ganhou mais reconhecimento entre pesquisadores. Porém, como o trabalho foi feito em 1971, eventualmente foi considerado ultrapassado.
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A invenção dos aplicativos de rastreamento de período menstrual foi um grande marco para a coleta de dados nesse segmento, uma vez que muito mais informações estão sendo coletadas e analisadas. Ao que tudo indica, novos estudos não têm respaldado a teoria do efeito McClintok.
Em 2006, um trabalho de pesquisadores chineses constatou que "grupos não sincronizam seus ciclos menstruais". O estudo coletou dados de 186 mulheres vivendo em um mesmo dormitório na China. Qualquer evidência de sincronização encontrada pela equipe foi considerada dentro da matemática da coincidência.
Uma pesquisa maior, realizada pela Universidade de Oxford e pelo app Clue, apresentou dados ainda mais concretos. Ao analisar informações de 1,5 mil usuários do serviço, o estudo demonstrou ser basicamente improvável interromper o ciclo menstrual de outras pessoas somente por estarem próximas.
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De modo geral, a sincronicidade dos ciclos menstruais é algo extremamente difícil de se provar porque simplesmente não existem muitas formas de analisar como os feromônios femininos afetam o início de um novo ciclo, por mais que de fato sejam sinais químicos enviados para outras pessoas.
Os feromônios costumam sinalizar atração, fertilidade, excitação sexual, entre outras coisas, mas seriam capazes de indicar para outro indivíduo quando começar a menstruar? Essa é uma informação que ainda não temos.
Além disso, a lógica dos ciclos menstruais não colabora para os estudos. Mesmo que a média do ciclo seja de 28 dias — começando com 5 a 7 dias de menstruação, que é quando o útero descama —, muitos indivíduos o vivenciam de maneiras diferentes. Isso significa que pessoas com ciclo menstrual de até 40 dias também são consideradas dentro da normalidade.
É importante destacar que alguns ciclos só contam de fato com 2 ou 3 dias de menstruação. Sendo assim, a métrica dos ciclos menstruais se torna extremamente subjetiva, e a definição de "sincronização menstrual" acaba sendo ainda mais complexa. Portanto, tudo indica que esse fenômeno exista somente dentro das regras da probabilidade.