Artes/cultura
18/07/2021 às 05:00•3 min de leitura
No dia 7 de setembro de 1922, o presidente Epitácio Pessoa "deu o pontapé" na história do rádio no Brasil ao realizar uma transmissão em comemoração ao centenário da independência do país em cadeia nacional. Na época, o discurso fez parte da primeira demonstração pública do funcionamento do rádio junto de trechos da ópera O Guarany, de Carlos Gomes, no Teatro Municipal — onde tudo estava sendo realizado.
Entretanto, a difusão do veículo como um importante meio de comunicação e entretenimento só foi acontecer em abril do ano seguinte, quando foi criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Com um transmissor instalado na Escola Politécnica da, então, capital do país, o objetivo era que cada vez mais brasileiros tivessem acesso a esses canais.
(Fonte: Pixabay)
Ao contrário de outras partes do mundo, demorou um certo tempo para que o rádio fosse definitivamente instalado no Brasil. Segundo a maioria dos historiadores, o primeiro sistema de telégrafos teria sido criado pelo italiano Guglielmo Marconi, com a primeira transmissão no Canal da Mancha em 1899.
Mais ou menos na mesma época, o austríaco Nikola Tesla realizava seus estudos sobre radiodifusão e, posteriormente, foi considerado inventor do rádio pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Sendo assim, foram necessárias 2 décadas desde a criação do primeiro projeto para que ele chegasse à América do Sul.
O primeiro grande entusiasta brasileiro que almejava a expansão da rádio no país foi Roquette Pinto, um médico que pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos. Entusiasmado com as transmissões, foi ele quem convenceu a Academia Brasileira de Ciências patrocinar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro — posteriormente chamada de PRA-2.
(Fonte: Pixabay)
Nas primeiras décadas de existência do rádio no Brasil, não havia nenhuma regulação que limitasse o uso do meio de comunicação pelo país. O único ato publicado até então, por Epitácio Pessoa, designava a Repartição Geral dos Correios e Telégrafos como responsável pelas transmissões de radiotelegrafia e radiotelefonia, e só.
Por conta disso, as primeiras emissoras de rádio em escala nacional eram feitas por clubes ou sociedades de amigos nascidas da união de seres humanos encantados com a nova invenção. Apenas em 1931, agora sobre o governo de Getúlio Vargas, que surgiu o interesse público de regular a atividade de radiodifusão.
Na época, existia uma crescente preocupação no gabinete do presidente quanto à disseminação de emissoras pelo território nacional, visto que o número ultrapassava a casa de centenas e continuava em constante crescimento. Então, naquele ano, o governo decidiu um decreto que determinava a concessão de canais para entes privados e a legalização da propaganda comercial.
(Fonte: Pixabay)
Quando o uso de propagandas foi autorizado dentro das rádios, o desenvolvimento exponencial das emissoras tornou-se notável. Com mais investimento e dinheiro em caixa, existiam mais recursos para aplicar em novos equipamentos e em grades de programação mais complexas e robustas.
Logo, o rádio deixou de ser uma ferramenta amadora para se tornar um meio de comunicação verdadeiramente profissionalizante. As radionovelas e os programas musicais não demoraram muito para se popularizarem pelo país, o que colaborou para o lançamento de diversos artistas que fizeram sucesso naquela época — como Carmen Miranda e Noel Rosa.
Nesse meio-tempo, os programas informativos e radiojornais passaram a se tornar extremamente relevantes para o público como fontes de conhecimento. Sendo assim, o rádio conseguiu seu espaço como relevante meio de comunicação em massa e dividiu espaço no coração dos brasileiros com o jornal impresso.
O ano de 1938, por exemplo, ficou marcado como um dos mais importantes para a história do rádio. Esse foi o período em que os brasileiros pararam para escutar as transmissões dos jogos da Copa do Mundo, sediada na França, e também receber mais informações sobre a potencial guerra que estava prestes a eclodir na Europa.
(Fonte: Pixabay)
Com a chegada da era da televisão ao Brasil em 1950, ficou ainda mais evidente a necessidade da criação de um código para o setor de radiodifusão no país. Por mais que Vargas tivesse demonstrado interesse no passado, o primeiro projeto amplo só foi surgir pelas mãos do presidente Juscelino Kubistschek em 1958.
Em 1961, durante seu curto mandato, Jânio Quadros criou o Conselho Nacional de Telecomunicações, que seria subordinado à presidência, mas liderado pela Comissão Técnica de Rádio no Ministério da Viação e Obras Públicas. Dessa forma, pode-se dizer que a regulação do rádio no Brasil só foi ocorrer em 1964 durante a ditadura militar de Castelo Branco — 42 anos da primeira emissão nacional.
Por meio da Lei Geral de Telecomunicações, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) se tornou o primeiro órgão regulador oficial do país em 1997 e até hoje é quem controla o setor. Apesar de ser vinculada ao Ministério das Comunicações, ela tem administração independente e autonomia financeira para realizar suas atividades.