Rubaiyat: o rastro de morte que acompanha o livro de Omar Caiam

24/12/2021 às 09:303 min de leitura

Omar Caiam (1048-1131) foi um poeta persa que viveu entre os séculos XI e XII, responsável por um dos conjuntos de poesias mais notórios de todos os tempos: Rubaiyat, traduzido e publicado pelo poeta inglês Edward Fitzgerald (1809-1883) em meados de 1859.

Em persa, rubai pode ser traduzido como “quadra” ou “estrofe”, sendo seu plural rubaiyat, que lembra aquelas velhas quadrinhas da língua portuguesa, como “batatinha quando nasce”.

Uma das obras preferidas de figuras notórias da literatura mundial, como Oscar Wilde, as poesias refletem a importância de viver o momento e debate como Caiam não consegue se obrigar a acreditar em uma vida após a morte, então ele se sente impotente contra a "mão do destino".

O livro de ouro

(Fonte: The University of Texas/Reprodução)(Fonte: The University of Texas/Reprodução)

Antes de os livros serem produzidos em larga escala, o processo de encadernação visava apenas proteger as páginas de uma obra quando o mundo começou a se afastar dos pergaminhos.

Até hoje muito valorizada, a capa de um livro era vista como uma tela onde todos os tipos de artistas poderiam mostrar seu trabalho: entalhando, adicionando joias, bordados, couro ou até mesmo revestindo com pele humana. Logo, o que tornava um livro ainda mais caro não era a preciosidade de seu conteúdo, mas sua aparência.

Em 1901, surgiu a empresa Sangorski & Sutcliffe, em Londres, especializada em encadernações e até hoje considerada uma das mais importantes no ramo durante o século XX, famosa por suas edições de luxo cobertas com pedrarias e ouro.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Quando Frances Sangorski recebeu o trabalho da livraria e antiquário Henry Sotheran's uma edição impecável de Rubaiyat para transformá-lo no maior exemplo de encadernação que o mundo já viu, ela levou o pedido bem a sério.

A encadernadora cobriu a lombada do livro com mais de mil pedras preciosas, incluindo rubis e turquesas, além de um revestimento em couro verde real e 600 folhas de ouro verdadeiro. Um lado da capa apresentava três pavões, e o outro um bouzouki grego dourado (um instrumento musical de cordas).

Na Europa Oriental, o pavão sempre foi símbolo de mau presságio, visto que suas penas foram usadas por invasores no século XIII, e algumas pessoas ainda acreditam que manter uma delas em casa é sinônimo de azar, mas Sangorski não podia imaginar nada disso.

A suposta maldição

(Fonte: Propereplet/Reprodução)(Fonte: Propereplet/Reprodução)

Após 2 anos de trabalho, Sangorski entregou sua versão de Rubaiyat para Sotheran's, que ficou conhecida como O Grande Omar, uma peça rara da literatura mundial. Os acontecimentos estranhos começaram a acontecer quando o livro foi colocado em um navio para Nova York, rumo ao seu comprador, que o levaria por mil euros.

No entanto, a alfândega dos Estados Unidos (EUA) queria uma taxa tão cara que a Sotheran's se recusou a pagar e pediu que o livro fosse enviado de volta para a Inglaterra. A obra acabou em um leilão quando a economia parou devido à greve do carvão, sendo vendido por menos da metade do preço que a Sotheran's esperava.

O novo dono também tentou enviar o livro para Nova York, mas não conseguiu colocá-lo na primeira viagem de sua escolha, então optou pela viagem inaugural de um gigante dos mares: o Titanic.

Em 14 de abril de 1912, o Grande Omar de Sangorski se desfez nas águas do Atlântico Norte em meio a vida de 1,5 mil viajantes que estavam no transatlântico. Ironia ou não, Sangorski teve o mesmo fim 2 semanas após o naufrágio, quando pulou na água para salvar uma mulher que estava se afogando, embora não soubesse nadar.

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Inconformado com a morte da companheira e determinado a continuar o legado dela, seu sócio, George Sutcliffe, começou a criar uma segunda versão do Rubaiyat, mesmo que não tão ricamente decorado como a primeira. Com a entrada do Reino Unido na Segunda Guerra Mundial, o livro foi colocado no cofre de um banco londrino com outras obras, mas acabou sendo destruído durante a Blitz alemã.

Em seguida, Sutcliffe sofreu um derrame e, antes de morrer, passou sua empresa para Stanley Bray, seu sobrinho. Ignorando a sombra que o livro parecia lançar sobre a vida de todos, ele confeccionou uma terceira versão da obra.

Assim que ficou pronta, em 1989, Bray morreu abruptamente. O Grande Omar foi doado para a Biblioteca Britânica, onde permanece até hoje. E, a título de curiosidade, o pavão que acompanhava a primeira versão da obra — e que sempre foi considerado um símbolo de agouro — foi colocado em todas as outras.

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