Ciência
03/07/2023 às 08:00•2 min de leitura
Desenhos encontrados no livro de orações do inglês Henrique VIII sugerem que o monarca, que já foi considerado o pior rei de todos os tempos, poderia sofrer de depressão e ansiedade. Estudiosos dizem acreditar que ele enfrentou questões de saúde mental nos anos que antecederam a sua morte.
Henrique VIII ficou famoso por suas histórias escabrosas: ele se casou seis vezes, decapitou algumas das ex-esposas e rompeu o vínculo da Inglaterra com a Igreja Católica apenas para poder se casar de novo. Ele é tido por muitos historiadores como um governante egoísta e extremamente tirânico.
Mas, agora, uma série de rabiscos que Henrique VIII pode sugerir que parte de suas ações horríveis também podiam ter fundo psicológico.
(Fonte: GettyImages)
Os historiadores que estudam Henrique VIII investigam há muito tempo os documentos deixados por ele. Recentemente, eles começaram a se atentar para os rabiscos que o rei registrou nas margens do seu livro de orações, e que passaram despercebidos por séculos.
O curioso é que os materiais foram encontrados e coletados por pura sorte. Micheline White, professora associada do College of the Humanities e do Departamento de Inglês da Carleton University, conta que cruzou com estes documentos enquanto revisava o livro de orações de Henrique VIII.
Ao jornal The Times, a professora declarou que as anotações jogam nova luz sobre este personagem histórico. "Temos a tendência de pensar que Henrique VIII era muito confiante e que exerceu sua autoridade impunemente, mas essas anotações em particular nos mostram traços de um Henrique bastante ansioso", explica.
A maior parte dos rabiscos tem formato de manículas (desenhos de pequenas mãos). Elas apontam a trechos específicos do livro de orações que são particularmente sombrios, como um que diz: “Afasta de mim as tuas pragas, porque o teu castigo me enfraqueceu e desfaleceu”.
O livro em questão é uma edição de “Psalms or Prayers”, publicado por Catarina Parr, a sexta e última esposa de Henrique VIII. A rainha consorte editou o livro no intuito de servir de propaganda do governo, de forma a inserir patriotismo na população, tendo em vista uma provável guerra da Inglaterra contra a França.
Mesmo assim, o que Henrique VIII destacou no livro não foram as passagens inspiradoras, mas o contrário: as que falam sobre dor, condenação e culpa. Um dos destaques diz: “Ó Senhor Deus, não me desampares, embora eu não tenha feito nada de bom aos teus olhos”, e outra fala: “que teu espírito me ensine as coisas que te agradam, para que eu possa ser conduzido ao caminho reto, para fora do erro em que tenho andado por muito tempo”.
(Fonte: GettyImages)
O material encontrado levou os estudiosos a defender a hipótese de que, nos seus últimos anos de vida, Henrique VIII tenha se arrependido de muitos de seus atos e sofrido de sentimentos profundos de depressão e ansiedade.
Não que faltassem motivos de arrependimento. O rei se casou várias vezes e mandou matar algumas de suas ex-mulheres. E, claro, ele tomou uma decisão muito impactante ao romper todo o país com a Igreja Católica para poder se divorciar de sua primeira esposa, o que a igreja não autorizava.
Por fim, o rei tinha sofrimentos físicos: uma úlcera na perna, dores de cabeça constantes e outras doenças. A professora Micheline White defende que o rei poderia estar realmente preocupado que tudo isso pudesse ser uma punição divina. "No final de seu reinado, ele definitivamente tinha muito com o que se preocupar", pontuou.