Ernest Hemingway sobreviveu a 2 acidentes aéreos em um dia

28/09/2023 às 08:002 min de leitura

Uma cena real protagonizada pelo escritor norte-americano Ernest Hemingway pode ter suplantado em muito todas as cenas marcantes de seus famosos romances. Na primavera de 1954, ele e sua esposa Mary Welsh estavam em uma viagem turística pela África, quando foram vítimas de dois acidentes de avião. E ambos no mesmo dia.

Em agosto passado, uma carta na qual Hemingway conta os detalhes de ambos os acidentes foi arrematada em uma casa de leilões de Los Angeles por US$ 237 mil (R$ 1,17 milhão). Na correspondência, dirigida ao seu advogado Alfred Rice, o autor de O Velho e o Mar fala também de várias pendências pessoais e financeiras.

Embora o escritor tente imprimir um tom despreocupado aos relatos, a leitura da carta é reveladora: seu braço direito e a mão esquerda tinham queimaduras de terceiro grau. Mas “O [maior] problema está lá dentro, onde o rim direito foi rompido e o fígado e o baço foram feridos”, escreveu Hemingway, afirmando que o fato de não ter escrito antes era por estar "fraco de tanta hemorragia interna". 

O primeiro acidente

(Fonte: Dailey News)(Fonte: Dailey News)

A maior aventura de Hemingway teve início quando ele decidiu surpreender sua quarta esposa com um exótico presente de Natal: uma excursão pela África, lugar onde ele havia morado e escrito algumas de suas obras. 

O destino eram as famosas cataratas de Murchison, em Uganda. Como o país na época era ainda inacessível, o escritor contratou um piloto para levar o casal em um pequeno avião Cessna. Logo após o embarque, o avião fez uma manobra evasiva repentina para evitar um bando de pássaros selvagens, colidiu com um cabo telegráfico, e caiu no rio Nilo.

Com pequenas fraturas e escoriações, o casal passou a noite no local até ser resgatado, na manhã seguinte, por um barco de turistas. 

Um segundo encontro com a morte

(Fonte: Getty Images).(Fonte: Getty Images).

Levados pela embarcação até a cidade de Butiabá, no oeste de Uganda, o casal embarcou em outro avião que, inacreditavelmente, pegou fogo durante a decolagem e retornou ao solo. O piloto escapou pela janela e salvou Mary, mas Hemingway, um pouco mais parrudo, não passava pela abertura.

Desesperado, o escritor "mergulhou" de cabeça na porta, conseguindo arrombá-la e sair vivo, porém com graves ferimentos, que incluíam uma concussão e fratura no crânio. Levados de carro até a capital Entebbe, o casal foi recepcionado por jornalistas. Sorridente, Hemingway carregava “um cacho de bananas e uma garrafa de gim” e mostrou-se “animado” ao relatar o duplo encontro com a morte, disseram as publicações da época. 

O psiquiatra Andrew Farah afirmou em uma palestra de 2017 que, nos anos seguintes, o escritor teve pelo menos nove concussões graves, do tipo que afeta jogadores de futebol americano. Com perda de memória e dores de cabeça constantes, Ernest Hemingway se matou com uma espingarda de caça no dia 2 de julho de 1961. Tinha 61 anos.

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