Ciência
05/02/2024 às 11:04•2 min de leitura
Símbolo da luta contra a ditadura militar, Vladimir Herzog figura entre um dos nomes mais proeminentes, não só dentro do jornalismo brasileiro, mas também para a história do país. Conhecer sua história, portanto, é uma forma de manter vivos seus ideais.
Herzog nasceu em Osijek, ex-Iugoslávia, que corresponde atualmente à Croácia, em 27 de junho de 1937. Filho de um casal de origem judaica, sua história começa intrinsecamente ligada ao contexto do período, quando ocorria a expansão de governos extremistas e autoritários e, mais adiante, eclodia a Segunda Guerra Mundial.
Fugindo do antissemitismo, diretamente relacionado ao avanço do governo nazista alemão, a família de Herzog saiu da antiga Iugoslávia e foi para a Itália. Ela ainda permaneceu no continente europeu até o final de 1946, quando desembarcou no Rio de Janeiro, e em seguida, partiu em direção a São Paulo.
(Fonte: Instituto Vladimir Herzog/Reprodução)
Foi no Brasil, portanto, onde Herzog, também conhecido como Vlado, passou a maior parte da sua infância e juventude. Após entrar na faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e ter dado seus primeiros passos na carreira jornalística, casou-se com Clarice Ribeiro Chaves.
Quanto ao seu avanço no jornalismo, ele ocorreu a partir de 1959, quando ingressou no jornal Estado de S. Paulo, atuando como repórter e, mais adiante, como jornalista cultural. Assim, ele pôde se dedicar à crítica de cinema, e até mesmo avançar na própria produção cinematográfica, evidenciando que esse universo era uma de suas grandes paixões.
Ao longo de sua carreira, além de passar por diversos veículos, como a BBC em Londres, consagrou-se como professor de jornalismo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e da Universidade de São Paulo (USP). Em setembro de 1975, Herzog, em uma nova conquista, assumiu a direção de jornalismo da TV Cultura. Porém, um mês depois, tudo mudaria.
(Fonte: Instituto Vladimir Herzog/Reprodução)
Isso porque, após ser procurado por militares na emissora, Herzog compareceu à sede do DOI-CODI para um interrogatório no dia 25 de outubro. Relatos apontam que ele foi questionado quanto a ter ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que teria sido negado.
Infelizmente, este teria sido o último dia em que foi visto. Uma foto divulgada a partir desse evento mostrava o jornalista morto, enforcado com um cinto, junto a uma carta de suicídio, considerada falsa.
A comoção envolvendo o suicídio forjado de Herzog, somada à dor da perda de inúmeras outras pessoas em meio à repressão promovida pela ditadura, levou uma multidão às ruas, ocasião em que ocorria a Missa de Sétimo dia, em 31 de outubro.
O ato se tornou um forte símbolo da luta popular contra a ditadura. Considerando que a própria notícia da sua execução não teria sido barrada pela censura até então vigente, pode-se dizer que ainda impulsionou a luta a favor da democracia e da liberdade.
(Fonte: Wikimedia/Reprodução)
Em 2013, a família de Herzog recebeu uma nova certidão de óbito em que a versão anteriormente apontada pela ditadura militar foi substituída. A impunidade e a falta de informações sobre o assassinato, por outro lado, motivaram a abertura de uma ação na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em 2016.
Em outubro de 2023, a morte de Vlado voltou a ser lembrada quando o Brasil foi condenado na CIDH pela sua prisão, tortura e assassinato. A sentença responsabilizou o Estado brasileiro pela falta de investigação completa envolvendo o crime e pela ausência de divulgação do que eventualmente foi descoberto relacionado ao caso.
Vlado é lembrado muito além das suas contribuições para o jornalismo e o Instituto Vladimir Herzog, que surgiu em 2009, dá uma amostra disso: fundado a partir do esforço de seus familiares e amigos, defende os valores que Vlado acreditava, e ao mesmo em que mostra o seu trabalho, mantém viva a mensagem que a luta a favor da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão deve sempre prevalecer.