Ciência
12/02/2024 às 11:00•4 min de leitura
Recentemente, uma proposta para mudar o nome da Índia para Bharat gerou curiosidade no mundo inteiro. Mas a verdade é que isso faz muito sentido, já que maioria dos idiomas locais utiliza alguma forma de Bharat para designar o país. Índia, na realidade, é um exônimo. Ou seja, um nome que outro povo utiliza para designar uma região ou país, diferente do nome que o próprio povo usa nos idiomas locais.
O nome "Índia" vem do sânscrito Sindhu, que é o nome do Rio Indo nessa língua. E quando os persas conquistaram a região, foi esse o nome que eles deram. Desde então, os colonizadores de diferentes origens chamaram a região por alguma forma derivada de Sindhu. Porém, para o povo que vive ali, sempre foi Bharat.
Bharat, no caso, é um endônimo: o nome que o próprio povo usa, na língua local. Só que esse exemplo não é o único caso interessante de endônimos e exônimos pelo mundo. A seguir, nós trazemos vários exemplos.
(Fonte: Getty Images)
Para começar, é natural que as pessoas que falam outros idiomas queiram traduzir os nomes para algo que faça mais sentido para elas. É por isso que o nosso Brasil vira Brazil com Z em inglês, ou Brésil, em francês.
A maioria dos exônimos é criada com base na palavra original. Londres, nome usado para a capital do Reino Unido, é diferente de London, no original em inglês. França é um pouquinho diferente de France, para fazer mais sentido no nosso idioma.
Mas alguns exônimos, por mais semelhantes que sejam ao idioma original, podem gerar uma polêmica. Há algum tempo, o presidente Recep Tayyip Erdogan pediu que a Turquia não fosse mais chamada de Turkey nos países de língua inglesa — mas sim de Turkiye, o original turco. Acredita-se que um dos intuitos desse pedido seja diminuir a confusão com a ave peru, que também é chamada de "turkey" em inglês.
Algo semelhante acontece com a Costa do Marfim — ou melhor, Côte d'Ivoire, no original em francês. Eles pediram para que os outros países parassem de traduzir seu nome.
Contudo, outros exônimos tem origens completamente diferentes do vocábulo original. Esses talvez sejam os casos mais interessantes, que vamos apresentar a seguir.
(Fonte: Getty Images)
Faz menos de um século que o Iraque e o Irã são conhecidos no ocidente por esses nomes. O Iraque era chamado de Mesopotâmia até os anos 1920, e o Irã ainda era Pérsia até 1935 — sendo esses os nomes das regiões históricas que deram origem a esses países, na antiguidade.
Os europeus mantiveram esses nomes antigos até que os povos dos dois países pediram a mudança para os nomes que eles já usavam há muito tempo.
(Fonte: Getty Images)
No leste europeu, há mais dois exemplos interessantes. Na Geórgia, o povo chama seu país de Sak'art'velo, ou a "terra do povo de Kartli". Kartli é uma região histórica do país — que, na Idade Média, começou a ser utilizado para todo o país. Já Geórgia vem do nome persa para a região: Górgan, que vem de vrkan, ou "terra dos lobos".
Próximo dali, temos a Albânia, conhecida no idioma local como Shqipëria, ou "terra das águias". O nome que utilizamos vem do latim medieval, possivelmente como referência à tribo Albani.
Ainda no leste europeu, há o curioso caso de Montenegro, um nome em italiano que foi levado para várias outras línguas, incluindo a inglesa. Dentro do país, o nome usado é Crna Gora, que tem o mesmo significado, mas no idioma local.
(Fonte: Wikimedia Commons)
É interessante observar que um mesmo país pode ter vários exônimos, com origens distintas — e o país que chamamos de Alemanha é um dos melhores exemplos disso.
Quem vive lá chama seu país de Deutschland, ou "terra do povo", em germânico antigo. Mas o nome Alemanha deriva do francês Allemagne, ou "terra dos alamanos", que eram uma tribo do povo germânico mais próxima à França.
Em outras línguas, o nome do país é derivado de Germânia — Germany (inglês) ou Guermaniya (russo e búlgaro). Esse termo vem do latim, derivado do nome dado pelo imperador Júlio César para o povo que vivia a leste do Rio Reno.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Outro caso interessante de país com vários exônimos é a Grécia — quer dizer, Elláda. O nome oficial do país é República Helênica, que provavelmente é derivado de Heleno, o pai fundador das tribos gregas na mitologia.
Já Grécia, assim como Greece (inglês), Grèce (francês) ou Griechenland (alemão), vem do nome romano para essa região: Graecia. Contudo, nos idiomas surgidos na Ásia, os nomes para esse país vem das Ilhas Jônicas — região que era mais próxima de lá. Por isso, a República Helênica é chamada de Al-Yunan em árabe, ou Yunanistan em turco e armeno.
Entre os poucos idiomas que seguem o nome original, estão o norueguês (Hellas) e o búlgaro (Elada). Em português, nós até temos o termo Hélade, mas ele é pouco utilizado.
(Fonte: Christian Lue/Unsplash)
Esse fenômeno acontece com muito mais países do que podemos imaginar em um primeiro momento. Abaixo, temos mais alguns exemplos de forma resumida:
Por fim, podemos citar também a Nova Zelândia. Em inglês, que é um dos idiomas oficiais do país, realmente se usa New Zealand — nome dado pelos colonizadores, inspirado na província neerlandesa da Zelândia. Mas no idioma maori, nativo da região, se usa Aotearoa, que significa "Terra da Grande Nuvem Branca". Existiram projetos para mudar o nome internacional do país, mas eles ainda não surtiram efeito.