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26/01/2022 às 08:00•2 min de leitura
Assim como o mundo, a palavra e o jeito de falar também mudam e evoluem. Por outro lado, em certos casos, infelizmente, eles carregam marcas negativas da história – é o que acontece com o racismo e a intolerância racial.
No Brasil, o processo de colonização por parte Europa e da escravidão foram construídos, em parte, pelo apagamento das culturas indígenas e africanas, além da afirmação de uma suposta superioridade de povos brancos. Isso se manifestou em inúmeros âmbitos da cultura, incluindo a fala e a escrita.
Ainda hoje, no vocabulário brasileiro, existem termos que reforçam estereótipos e reproduzem essas ideias ultrapassadas e preconceituosas.
Alguns termos e expressões demonstram como o passado escravocrata do Brasil ainda é refletido na linguagem cotidiana, e isso pode ser definido como racismo linguístico. O termo foi cunhado no livro de mesmo nome lançado em 2019 e escrito pelo linguista e professor Gabriel Nascimento.
É o caso de associar "negro" para gerar uma conotação negativa, como nos casos de "lista negra", "mercado negro" ou "magia negra". Essa última ainda é erroneamente associada a religiões de matriz africana, mesmo sem ter nenhuma ligação. O contrário também acontece: usar "branco" para amenizar alguma expressão, como em "inveja branca".
Mesmo palavras com uma conotação positiva podem ter origem preconceituosa, como a expressão "cor do pecado", usada para descrever a tonalidade da pele de mulheres negras, que sofrem com a extrema sexualização.
Tais termos, mesmo que usados inconscientemente, acabam naturalizando um passado da história que deveria ser rechaçado. A escravidão foi um período extremamente traumático para parte da população brasileira. Seus descendentes carregam as consequências disso até hoje, inclusive por meio da língua falada ou escrita.
A luta por igualdade também envolve o combate a expressões que reproduzem racismo. (Fonte: Unsplash)
Por outro lado, o ser humano está em transformação e evolução, o que traz novas formas de comportamento em todos os âmbitos, inclusive na forma de expressão falada ou escrita. Assim, as transformações sociais também têm reflexos no vocabulário.
Ainda permanece a discussão sobre a abolição de palavras preconceituosas em sua origem ser considerada um tipo de censura. No entanto, é importante lembrar que se trata de uma substituição por termos mais adequados, sem esquecer que os antigos existiram e o porquê de terem sidos deixados de lado.
Apesar do racismo linguístico permanecer, grupos ativos na luta contra o preconceito reafirmam as culturas negra e indígena. (Fonte: Unsplash)
Em contrapartida à permanência de traços culturais negativos, existe o resgate de culturas apagadas ao longo do processo histórico. Grupos descendentes e militantes por causas negras e indígenas, por exemplo, são grandes responsáveis por essa ação.
A desmistificação de preconceitos associados a essas culturas, a propagação de informação sobre elas, a valorização de termos e outras características culturais próprias são formas encontradas para reverter processos negativos como o preconceito linguístico.