Banir livros: uma prática histórica de silenciamento

Escrever livros é uma arte tão antiga quanto o hábito de bani-los. Em 387 a.C., o filósofo Platão já considerava A Odisseia, de Homero (850 a.C.), uma leitura inadequada para os jovens. Alguns séculos mais tarde, em 35 d.C., o imperador romano Calígula (12 d.C. - 41 d.C.) proibiu o livro alegando expressar "os ideais gregos de liberdade".

Nos Estados Unidos (EUA), o primeiro banimento de livros aconteceu em meados de 1624, quando o empresário inglês Thomas Morton (1819-1868) chegou a Massachusetts com um grupo de puritanos, mas acabou indo embora ao perceber que não queria seguir as regras rígidas e os valores convencionais que compunham aquela sociedade americana.

Morton, portanto, estabeleceu a própria colônia repleta de costumes proibidos do Velho Mundo que os puritanos repudiavam, acabando exilado pela milícia puritana, o que o levou a entrar com uma ação judicial e escrever um livro, publicado em 1637, em que criticava e atacava de maneira ferrenha os costumes puritanos.

(Fonte: Imgur/Reprodução)

O Brasil também não fica fora dessa trajetória histórica. Durante o Golpe de 1964, que instaurou uma ditadura militar no país, várias formas de arte foram repreendidas e censuradas, incluindo alguns livros.

Dos autores internacionais, sumiram das prateleiras exemplares de Laranja Mecânica, de Anthony Burgess (1917-1993), que fala sobre um adolescente que se vê em uma sociedade futurista onde a violência atinge grandes proporções devido a um governo totalitário.

Já dos autores nacionais, o livro Feliz Ano Novo, publicado em 1975 por José Rubem Fonseca (1925-2020), foi recolhido pelo Departamento de Polícia Federal sob a alegação de ser uma "ameaça à moral e aos bons costumes da família brasileira" por abordar temas que envolvem sexo, violência e conflito entre classes sociais.

Uma nação não tão livre assim

(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Conforme a American Library Association (ALA), estima-se que 11,3 mil livros tenham sido contestados desde 1982 só nos EUA. Em 2020, conforme comunicado da ALA, 273 livros foram contestados ou banidos no mundo, uma queda brusca em relação à 2019, que figurou com 377 livros, mas só porque muitas bibliotecas, escolas e livrarias fecharam durante grande parte do ano devido à pandemia da covid-19.

Entre tantos títulos, destaca-se 1984, do famoso escritor George Orwell (1903-1950), considerado, pela maioria de seus contestadores, "uma obra pró-comunista que contém conteúdo sexual explícito". Esses são só alguns dos motivos de temas no guarda-chuva enorme de banimentos, que contém discussões sobre suicídio, identidade de gênero, questões raciais e LGBTQIAP+, educação sexual, uso de drogas, ateísmo, questões familiares, entre outros.

(Fonte: BBC/Reprodução)

O ato de querer banir um livro pode vir de qualquer fundo da sociedade, seja de cidadãos, seja de organizações, seja de funcionários do governo. No entanto, como indica um relatório de 2021 da ALA, 50% das contestações de conteúdo de livros partem de pais nos EUA.

Ironia ou não, o país é considerado o que mais bane livros no mundo por ano, sem contar as nações que vivem sob um regime totalitário ou regido por alguma religião, como é o caso da Coreia do Norte, por exemplo.