Ciência
23/08/2023 às 03:00•2 min de leitura
Em 79 d.C., a cidade de Herculano, localizada na região da Itália, foi inteiramente enterrada pelas cinzas vulcânicas após a erupção do Monte Vesúvio. A cidade era vizinha de Pompeia, que também teve o mesmo fim.
Contudo, há vários restos que foram preservados desta vila e que continuaram sendo estudados pelos pesquisadores. Conheça a fantástica histórica do longo processo de investigação sobre o que havia na biblioteca em Herculano.
(Fonte: Wikipedia)
Os achados não são exatamente recentes. Carlos VII, rei de Nápoles, financiou escavações no local para tentar encontrar obras de mármore e bronze para sua rica coleção. Só que os trabalhadores acabaram se deparando com uma pequena sala cheia de materiais queimados, que quase foram jogados fora.
Felizmente, isso não aconteceu. O que se descobriu ali foram cerca de 2 mil pergaminhos feitos de papiro e enrolados em núcleos de madeira. Ou seja, havia ali a única biblioteca completa que sobreviveu à erupção do Vesúvio.
O próprio Carlos VII deu ordens para que os pergaminhos fossem lidos, mas essa não foi uma tarefa fácil. Eles estavam tão quebradiços que mal podiam ser tocados sem se desintegrar. Ainda assim, os pesquisadores da época ficaram fascinados pela possibilidade de haver ali novas obras de autores clássicos.
Por consequência, no século XVIII, a notícia se espalhou, e surgiram várias pessoas com palpites sobre como abrir aquele material precioso. Houve a tentativa de usar uma faca para cortar o pergaminho bem no meio. Por motivos óbvios, o método não funcionou muito bem.
Em 1753, um sujeito chamado Antonio Piaggio criou uma máquina para desenrolar os pergaminhos usando pesos. O dispositivo seria capaz de separar as camadas em fragmentos maiores. Mas o procedimento também era lento e arriscado.
Em 1816, o rei Fernando IV de Nápoles entregou à Grã-Bretanha alguns dos pergaminhos, que foram encaminhados a um professor chamado Friedrich Sickler, especializado no trabalho com papiros egípcios. Ele mergulhou os pergaminhos na água para poder abri-los. Deu certo, mas isso também apagou a escrita que estava dentro deles. Por consequência, 7 dos 12 pergaminhos que estavam com Sickler foram destruídos.
Depois disso, entrou um químico nesta operação. Sir Humphry Davy expôs os materiais ao cloro, vapor de iodo e ácido. Isso ajudou a soltar as abas dos pergaminhos, e o iodo e o ácido tornaram seus conteúdos mais visíveis.
(Fonte: Wikipedia)
Hoje os pergaminhos da biblioteca de Herculano estão guardados em ambientes seguros, e não podem ser visitados. Mas, ao longo dos últimos séculos, eles foram estudados por cientistas, e várias descobertas valiosas foram feitas nestes documentos.
As técnicas usadas trouxeram o esclarecimento sobre obras geradas por filósofos como Epicuro e Filodemo de Gádara (que, segundo acreditam alguns pesquisadores, pode ter sido o dono da biblioteca). Os pergaminhos ajudaram a retificar interpretações erradas que haviam sido feitas, possibilitando que novas nuances desses autores fossem capturadas.
Questões relativas ao pensamento epicurista puderam ser melhor compreendidos, já que parte do seu pensamento havia restado apenas pela interpretação de outros filósofos que eram hostis às suas ideias. Agora, por conta da visualização das próprias palavras de Epicuro, algumas interpretações realizadas sobre o seu legado puderam ser esclarecidas.
Por exemplo: houve, por muito tempo, a leitura de que uma pessoa que seguisse os pensamentos de Epicuro seria alguém que só se preocupava consigo mesmo. Com a leitura dos pergaminhos, pode-se entender que, na verdade, o filósofo acreditava que tudo poderia ser explicado pelas ações dos átomos seguindo as leis naturais, desconsiderando as explicações religiosas sobre os eventos.
Por isso, ele defendia que os seres humanos deveriam se concentrar em viver ao máximo a sua vida no tempo presente, já que não haveria uma redenção final após a morte. Certamente, esta deveria ser uma leitura bem moderna do mundo para aquela época.