Saúde/bem-estar
07/06/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 10:59
Renée Vivien, poetisa britânica que escolheu morar em Paris e escrever em francês, é uma figura intrigante e complexa, cuja vida e obra transcenderam as normas sociais e literárias de sua época. Nascida Pauline Mary Tarn em 1877, em Londres, ela trocou a sobriedade inglesa pelo vibrante cenário artístico parisiense, adotando um novo nome e uma nova identidade.
Vivien chegou a Paris com uma herança robusta, oriunda de seu pai, que lhe proporcionou a liberdade de viver de maneira independente e de seguir sua paixão pela poesia. Aos 16 anos, ela já declarava a poesia como sua vocação, vendo nela uma ferramenta poderosa para elevar, inspirar e revelar verdades.
Esse profundo senso de missão refletiu-se em toda sua obra, que desafiava as normas literárias e sociais ao expressar de forma explícita e poética o amor entre mulheres. Renée Vivien se tornou um ícone do amor sáfico, marcando a história com sua poesia profundamente sentimental e sua vida cheia de excessos e controvérsias.
Seu relacionamento com Natalie Clifford Barney, uma famosa dramaturga e escritora, foi um dos mais significativos de sua vida. Barney, uma mulher igualmente notável, rejeitava a monogamia e vivia abertamente como lésbica, influenciando profundamente Vivien.
Juntas, compartilharam um amor pela poetisa grega Safo (entre 630 e 604 a.C.), cuja obra foi uma inspiração central para Vivien. Ela se empenhou tanto que aprendeu grego antigo para traduzir e reescrever os poemas de Safo, publicando a primeira tradução explicitamente lésbica da poesia da antiga poeta.
Além de Barney, Vivien teve outros romances intensos e muitas vezes trágicos. Um de seus amores mais profundos foi com a baronesa Hélène van Zuylen, uma mulher casada e membro da famosa família Rothschild. Apesar das restrições sociais que impediam que seu relacionamento fosse público, Vivien considerava-se casada com Hélène.
No entanto, a relação terminou dolorosamente quando Hélène a deixou por outra mulher, levando Vivien a uma espiral de depressão e vícios.
Vivien também teve um relacionamento apaixonado com Kérimé Turkhan Pasha, esposa de um diplomata turco, mas as restrições culturais e sociais impediram que seu amor se realizasse plenamente. Na verdade, a interação entre as duas só ficou contida a conversas por meio de cartas.
Todas essas experiências amorosas intensas e muitas vezes dolorosas foram imortalizadas em seus poemas, que frequentemente exploravam temas de desejo, saudade e perda.
Renée Vivien não só se destacou por sua poesia, mas também por seu estilo de vida extravagante. Ela era conhecida por suas roupas opulentas, frequentemente inspiradas na arte pré-rafaelita, e por manter um zoológico de animais exóticos, incluindo uma leoa de estimação chamada Djuna.
Sua vida social era igualmente notável, cercada por figuras proeminentes da Belle Époque como a escritora Colette e a própria Barney.
A vida de Renée Vivien foi curta, mas cheia de intensidade. Ela morreu aos 32 anos, após anos de luta contra a depressão, anorexia e vícios (principalmente em álcool e em drogas famosas na época, como o láudano e o cloral). Sua morte prematura não obscureceu sua influência; pelo contrário, solidificou sua posição como uma figura trágica e fascinante da literatura.
Sua obra poética, marcada por uma mistura de influências decadentes, parnasianas e simbolistas, é um testemunho duradouro de sua tentativa de reescrever mitos antigos a partir de uma perspectiva feminina e lésbica.
Hoje, Renée Vivien é lembrada como uma pioneira que desafiou as convenções de seu tempo. Sua poesia e sua vida continuam a inspirar e a fascinar, oferecendo um olhar raro e sincero sobre o amor sáfico em uma época de grande transformação cultural.