Ciência
24/06/2022 às 11:00•2 min de leitura
Imagine esse cenário: você está sentado em um ônibus quando olha pela janela e vê outro veículo aparentemente se movimentando. Será que o seu ônibus parou e outro está se movendo ou é você que está andando enquanto o automóvel está parado?
Para resolver essa ambiguidade e perceber corretamente o mundo, o cérebro humano inicia um processo conhecido como inferência causal.
Em um novo artigo publicado na revista eLife, os pesquisadores descrevem um novo mecanismo neural envolvido na inferência causal que ajuda o cérebro a detectar um objeto em movimento enquanto você também está se mexendo.
Os cientistas descobriram um tipo de neurônio que possui uma combinação única de resposta, o que o torna adequado para contribuir na tarefa de distinguir entre o movimento próprio e o de outros objetos.
Entenda o que é a inferência causal
A inferência causal envolve um circuito complicado de neurônios e outros mecanismos sensoriais que ainda não são completamente compreendidos. Os sinais sensoriais são cheios de ruídos e incompletos. Além disso, existem diferentes eventos que poderiam produzir padrões semelhantes.
Por exemplo, quando um ponto de luz se move através da retina do olho, essa mesma entrada visual pode ser o resultado de várias situações: um objeto que se move enquanto o espectador permanece parado, uma pessoa parada em uma janela e observando a luz de uma ambulância em movimento, um observador em movimento com objeto parado e mais.
Nesses casos, o cérebro tem um problema difícil para resolver: tirar conclusões sobre o que causou o padrão de sinais sensoriais que recebeu e planejar ações apropriadas em resposta.
O próximo passo dos cientistas é entender como o cérebro gera a visão consistente da realidade por meio das interações entre as partes que processam estímulos sensoriais e as que tomam decisões e planejam ações.
Entender melhor a inferência causal pode ter impacto direto no desenvolvimento de piloto automático para aviões
Reconhecer a forma como o cérebro usa a inferência causal para separar o automovimento do movimento do objeto pode ser um passo importante no projeto de inteligência artificial e dispositivos de piloto automático.
De acordo com os pesquisadores, entender como o cérebro entende o movimento próprio e de objetos pode fornecer inspiração para melhorar os algoritmos existentes em dispositivos de piloto automático em aviões e veículos autônomos.
Essas descobertas também podem ter aplicações importantes nos tratamentos de distúrbios neurais, como autismo e esquizofrenia, condições em que a inferência causal provavelmente é prejudicada.