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07/11/2022 às 06:30•2 min de leitura
Inspiração tanto para cenas de terror quanto para cenários deslumbrantes, os espelhos são artefatos que, quanto mais se exploram, mais mistérios parecem revelar. Suas lendas são muito mais antigas do que se imagina e, de acordo com a folclorista da Universidade de Binghamton, Elizabeth Tucker, as histórias envolvendo peças e reflexos consistem, quase que na totalidade de sua essência, em contos sobrenaturais.
A lenda primordial do poder destrutivo dos espelhos faz referência à mitologia de Narciso, que de tanto encarar sua própria face refletida na água, morreu de desgosto e amaldiçoado por não conseguir possuí-la. Já na Antiga Roma, acreditava-se que os artefatos vítreos tinham o poder de prender a alma das pessoas, exigindo que o espírito humano permanecesse preso por até sete anos antes de ser liberado — a origem da famosa história dos sete anos de azar.
Com o tempo, deram início às primeiras superstições, quando o período medieval incentivou discursos sobre a “magia do amor”. Segundo as histórias, jovens que queriam se casar encaravam os espelhos em rotinas programadas enquanto recitavam rimas — uma espécie de ritual de invocação. Caso, em algum momento, a imagem de seu amado aparecesse refletida, a crença teria funcionado. Caso aparecesse uma caveira, a dama morreria antes de celebrar matrimônio.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
Cercado de mais mistérios e sendo visto como um elemento que reservava um certo temor às pessoas, o espelho tornou-se recurso explorado em larga escala por filmes de terror. Desde obras sobre vampiros — cujos reflexos não apareciam — até a popularização das lendas urbanas, como nos casos de Candyman e Bloody Mary — e aqui no Brasil a "Loira do banheiro" —, conceitos do cinema utilizavam as molduras de vidro para fortalecer sustos e pegadas mais assombradas, dando sobrevida ao elemento do jumpscare.
“Uma mente subconsciente, não importa onde esteja, está sempre procurando o perigo. Está sempre olhando para as coisas e tentando decidir se é seguro ou uma ameaça”, diz Leonard Pickel, proprietário da empresa de design de casas mal-assombradas Hauntrepreneurs. “Quando o cérebro não consegue decidir se é amigo ou inimigo, essa é a sensação assustadora que você tem quando o cabelo fica em pé na nuca.”
Do ponto de vista psicológico, o cérebro humano é condicionado a interpretar mal o que é visto em um espelho. Assim, quando o reflexo não corresponde às expectativas de quem o observa, é comum se desconectar desse senso de identidade e encarar algo que não está certo ou que é assustador.
Há 20 anos, enquanto estudava o transtorno dissociativo de identidade, o psicólogo da Universidade de Urbino, Giovanni Caputo, realizou um estudo com 8 espelhos. As peças foram colocadas ao redor dos voluntários e sofreram a incidência de diferentes níveis de iluminação. Rapidamente, os resultados imediatos mostraram que, em condições de maior escuridão, os rostos refletidos pareciam mudar e ganhar aspectos de distorcidos. Essa pesquisa patenteou a expressão conhecida como "ilusão do rosto estranho".
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
Essas visões assustadoras, que incluíam não apenas os rostos dos observadores, mas também de entes queridos ou falecidos e, até mesmo, de monstros, não são resultados de algo sobrenatural. É fácil compreender que se tratam de interpretações cerebrais influenciadas por fatores externos e impactantes, capazes de distrair a atenção. Além disso, pessoas com maior capacidade focal podem ser incapazes de visualizar qualquer efeito distinto.
“Quando fiz esse experimento, algumas pessoas ficaram bastante assustadas com o que aconteceu. E acho que isso apenas demonstra para as pessoas, fundamentalmente, que nossas experiências visuais são construídas em nossa mente, e elas não representam diretamente o que estamos tentando ver”, conclui Joanna Mash, doutoranda em psicologia na Universidade de Hertfordshire, Inglaterra.