Ciência
29/12/2021 às 06:30•3 min de leitura
Ao longo dos séculos, a vida foi sendo transformada até se tornar o que conhecemos hoje, e o mesmo se aplica às crenças religiosas. Por questões políticas, ideológicas ou mesmo em adaptação às sociedades, as doutrinas acabaram se modificando.
É possível apontar certa beleza nessas mudanças, visto que permitiram que muitas pessoas passassem a ser atraídas a fazer parte de religiões e suas congregações. Neste texto, veremos seis crenças religiosas modificadas ao longo do tempo.
(Fonte: Vozes Mórmons)
Poligamia é um tema controverso, mas que já foi aceito pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como Igreja Mórmon. Chamada de Casamento Plural, a prática visava aumentar o número de filhos do Senhor e foi permitida entre 1852 e 1890, quando foi oficialmente suspensa.
Wilford Woodruff (1807-1898), o presidente da igreja na época, proibiu a prática para evitar uma possível perseguição pelo governo norte-americano, já que a única modalidade de casamento permitida era a monogamia. Ratificadas pela Suprema Corte, as leis antipoligamia passaram a confiscar propriedades da igreja, já que seus membros, em desobediência civil, mantiveram-na por alguns anos.
(Fonte: Shutterstock)
Por mais absurdo que soe hoje, a escravidão já foi vista pelas religiões como uma oportunidade de salvação dos escravizados. As religiões cristãs, por exemplo, só começaram a enxergá-la como uma prática cruel e que deveria ser combatida em meados do século XIX. Já o Islã e o judaísmo impunham tratamentos diferentes a escravizados dependendo de suas religiões.
Algumas das instituições religiosas do Brasil colonial também mantiveram pessoas escravizadas. Pesquisadores indicam que para muitos integrantes da igreja a religião era uma coisa e os negócios eram outra — e tudo isso em uma economia baseada no regime escravocrata.
(Fonte: Super Interessante)
Se tivesse de descrever a aparência de Jesus, a maioria das pessoas provavelmente retrataria um homem branco, barbudo, de cabelos castanhos e olhos azuis. Acontece que o Jesus histórico, como apontam especialistas, era moreno, baixinho e de cabelos aparados, algo próximo dos judeus da época.
A dificuldade de definir sua real imagem tem base nos próprios livros sagrados, já que o Novo Testamento não faz menção a sua aparência, o que parece indicar que isso deveria ser irrelevante para seus seguidores.
A construção moderna mais conhecida começou a ser moldada durante o Império Bizantino, que passou a retratar a figura de Cristo como um ser invencível, semelhante aos reis e imperadores da época. Sem qualquer orientação por parte das igrejas, a figura de Cristo foi sendo definida e reforçada pelas artes, com destaque para o Renascimento italiano, que popularizou o Jesus caucasiano e de olhos claros.
(Fonte: iStock)
O céu e o inferno rondam o imaginário coletivo da humanidade apesar de serem uma concepção relativamente recente nas religiões. A ideia de julgamento da alma resultando em diferentes destinos era rara nas culturas do Mediterrâneo que inspiraram as narrativas do Antigo Testamento. As pessoas cultivavam Deus (ou deuses, no caso dos politeístas) buscando uma vida feliz e realizada durante seu tempo na Terra, enquanto quem morresse iria, sem distinção, para um "Reino dos Mortos" sem recompensa ou punição.
Isso mudou por volta de 400 a.C., com o filósofo Platão, no caso dos politeístas. Para os cristãos, essas ideias chegaram mais tarde, por influência da filosofia helênica grega a respeito do pós-vida que passou a circular entre os judeus. O ponto para impulsionar o ideal de céu e inferno veio com a perseguição dos judeus por governantes pagãos, que os forçavam a abdicar de sua fé. Como forma de oferecer-lhes esperança, os pensadores judaicos propuseram o Juízo Final, em que todas más ações seriam corrigidas. O passo definitivo aconteceu na Idade Média, quando a Igreja Católica definiu a doutrina do purgatório.
As crenças monoteístas surgiram somente a partir do último milênio antes de Cristo e foram predominantes a partir da Idade Média. O surgimento das bases para o monoteísmo datam de 1353 a.C., quando o faraó Aquenáton desafiou o sistema religioso do Antigo Egito e determinou que cerca de 2 mil deuses não deveriam mais ser cultuados, restando apenas o deus Sol (Aton).
As três principais religiões monoteístas do mundo (islamismo, cristianismo e judaísmo) surgiram no Oriente Médio e, ao contrário de hoje, conviveram em certa tolerância por um tempo. Alguns historiadores atribuem o ponto de partida dos extremismos religiosos ao fato de que, no monoteísmo, as bases não se consolidam apenas na crença de uma divindade que seria a única com sabedoria absoluta e, consequentemente, a única responsável pela criação de todas as coisas do universo.
(Fonte: Evergreen Core/Reprodução)
Até meados de 1500, era consenso que a configuração do Universo tinha a Terra em seu centro, com todos os planetas e o Sol girando ao redor — na teoria do geocentrismo.
O modelo geocentrista ia de encontro à teologia da Igreja Católica Romana. Para impedir ruídos, o cardeal São Roberto Belarmino (1542-1621) conduziu um tribunal, em 1616, que proibiu a teoria heliocêntrica (em que o Sol é o centro do Universo) e incluiu sua publicação na lista de livros proibidos. Isso fez que a teoria de Nicolau Copérnico (1473-1543) ficasse relegada às sombras do pensamento científico até que outros astrônomos comprovassem seus apontamentos.